Título: UE apronta plano de socorro para a Grécia
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2010, Finanças, p. C8

A União Europeia (UE) aprontava ontem o plano para socorrer a Grécia a evitar o calote e afundar o euro, mas a Alemanha, a maior economia do bloco, aumentava o custo da fatura, pressionando Atenas a se comprometer com plano mais rigoroso de ajuste fiscal.

Fontes em Bruxelas indicaram que o primeiro-ministro francês Nicolas Sarkozy e a chanceler alemã Angela Merkel pivilegiavam um possível plano de assistência bilateral, que deve ser apresentado hoje durante o encontro de cúpula de chefes de Estado e de governo dos 27 países-membros.

As especulações na capital belga davam conta de que um plano de socorro na verdade já teria sido aprontado numa videoconferência ontem dos ministros de finanças dos 16 paises da zona euro com o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet. E que só faltava definir quem será o representante especial europeu em Atenas, o que coloca de vez a Grécia sob tutela de Bruxelas.

O chefe do grupo de ministros de finanças, Jean-Claude Juncker, limitou-se a confirmar que fará "propostas" nesta quinta-feira para apoiar a Grécia e dar "uma resposta que poderá convencer os mercados financeiros".

Também o porta-voz europeu para assuntos monetários reiterou ao Valor que "nada estava fechado", não só por causa da cúpula de hoje com o presidente europeu Herman Van Rompuy, como também porque haverá reunião de ministros de finanças na segunda-feira.

Países europeus e o Banco Central Europeu aumentaram a pressão sobre Atenas, exigindo um claro plano de economia de gastos, antes de apoiar um plano de socorro hoje em Bruxelas. O primeiro plano deixou os países europeus e o Banco Central Europeu céticos. Existe clara desconfiança sobre a capacidade de Atenas de realmente baixar a dívida pública de 13% do PIB atualmente para 3% dentro de dois anos.

Sobretudo na Alemanha, um plano de socorro está longe de ser popular em camadas da população, que reclamam do estilo de vida grego acima de suas possibilidades e do risco que Berlim toma em colocar dinheiro para evitar calote grego. Para os alemães, sempre foi claro que a dívida de hoje resulta em imposto amanhã.

Nesse cenário, o martelo não teria sido batido ainda sobre as modalidades do pacote de socorro. Os alemães acenaram com garantia da dívida soberana ou compra de bônus gregos através de um banco estatal de desenvolvimento. Paris, por sua vez, excluía ajuda financeira do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas não sua intervenção técnica.

Já o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Gordon Brown, cujo país não participa da zona euro, descartou de vez assistência bilateral para Atenas, repetindo que o FMI é a instituição mais indicada para isso. Letônia e Hungria, membros do bloco europeu, mas não da zona euro, atualmente têm assistência financeira do FMI.

Bancos da França, com US$ 75 bilhões, e da Alemanha, com US$ 43 bilhões, são os mais expostos na Grécia. O país tem uma dívida total com os bancos de US$ 330 bilhões. No total, a exposição de bancos europeus nos Pigs (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha, todos sob ameaça) seria de US$ 2 trilhões, segundo o jornal italiano "Il Sole". "Não deixaremos a Grécia cair", disse Sarkozy ao receber o primeiro-ministro grego George Papandreou, em Paris.

Em meio à crise, com o euro passando seu pior momento e as manifestações já tomando conta das ruas por causa de aperto que virá, o primeiro presidente da Europa passará hoje por seu primeiro teste de credibilidade. O belga Herman Van Rumpuy quer usar o pânico provocado pela dívida soberana da Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha para defender uma nova "forma de governo econômico" no bloco comunitário. A ideia é de que um eventual pacote de socorro não apenas ajude os gregos, mas evite futuras crises. Isso implica monitoramento rígido sobre as finanças públicas, dez anos após começar a vigorar uma união monetária sem governo econômico.