Título: Calçadistas elevam vendas após sobretaxa
Autor: Watanabe , Marta
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2010, Brasil, p. A5

Em vigor desde 9 de setembro, a medida antidumping sobre a importação de calçados chineses, com sobretaxa de US$ 12,47 por par, favoreceu a produção interna de calçados. A fabricante de calçados Piccadilly, por exemplo, projetou crescimento de vendas de 10% no último trimestre de 2009, assim que a medida antidumping foi divulgada. Segundo Marlon Martins, diretor-comercial da empresa, em outubro e novembro as vendas foram prejudicadas pelas chuvas. Em dezembro, porém, o volume de vendas compensou, com crescimento estimado entre 20% e 25% na comparação com o mesmo mês de 2008. Segundo Martins, num efeito direto da sobretaxa aplicada aos produtos chineses, o aumento se deu com as vendas no mercado interno.

O efeito, diz, continuou em janeiro, quando a empresa fechou vendas de 450 mil pares. A meta era de 300 mil pares. A elevação foi puxada principalmente pelo mercado interno, que teve aumento de 80% no volume de vendas na comparação com janeiro de 2008. "Trabalhamos com horas extras desde a última semana e contratamos entre 50 a 70 pessoas", diz. Segundo ele, a empresa já começou a fechar encomendas para fevereiro. "Para janeiro não temos mais como produzir porque não daria tempo de contratar novos trabalhadores."

Com a medida antidumping, diz Martins, a expectativa da empresa é aumentar em 20% as vendas totais de 2010 em relação a 2009. No mercado nacional o aumento deve ser de 25% a 27%.

A Piccadilly não foi a única a contratar no últimos meses de 2009. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), a medida propiciou a criação de 30 mil empregos novos de outubro a dezembro do ano passado e também a redução em 30% da importação de calçados chineses no acumulado de 2009 na comparação com o ano anterior. Heitor Klein, diretor-executivo da associação, explica que a indústria calçadista pede que a medida antidumping, atualmente provisória, com validade até março, torne-se definitiva, com duração de cinco anos e com sobretaxa maior, de US$ 18,44 o par. "A sobretaxa resultou em contratações de trabalhadores e retomada dos planos de investimentos."

Fabricante de calçados femininos e masculinos, a West Coast deve inaugurar em março uma fábrica em Sergipe. Segundo o gestor de mercado da empresa, Rafael Schefer, a medida antidumping dá mais segurança ao investimento. "Caso contrário, o plano de produção seria muito mais lento", diz. Com a nova linha, a West Coast planeja terminar este ano com capacidade de produção 30% maior e com 250 a 300 empregados a mais. A fabricante, diz Schefer, já contratou 80 funcionários no fim de 2009, totalizando atualmente 400 trabalhadores diretos.

A medida contra calçados chineses, diz, ajudou a empresa a elevar em 29% as vendas do mercado interno no segundo semestre do ano passado, na comparação com 2008. "A sobretaxa veio no momento em que o mercado se aquecia", explica. A mesma mistura, espera ele, deve propiciar aumento de 22% nas vendas para 2010. O crescimento deve ser dar em função do mercado interno.

Assim que a medida foi divulgada, a Calçados Bibi restabeleceu a meta original de 5% de crescimento no volume de produção de calçados infantis no acumulado de 2009. O presidente da empresa, Marlin Kohlrausch, diz que a sobretaxa favoreceu o cumprimento da expectativa. Segundo ele, o produto que mais sofria concorrência chinesa eram os calçados esportivos, que representam 40% da produção da Bibi. A meta para 2010 é crescimento de receita de vendas de 23%, quase que exclusivamente no mercado interno. "As exportações devem permanecer no mesmo nível, somente para manutenção de mercado."