Título: Divisão em Minas faz Dilma temer repetição da derrota de 2002 no RS
Autor: l Ulhôa , Raque
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2010, Política, p. A6

A radicalização da divisão do PT de Minas Gerais e seu potencial de estrago à sucessão presidencial são as principais preocupações atuais da ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, e do grupo responsável pela coordenação informal de sua campanha à Presidência da República. Dilma teme a reedição do racha ocorrido no PT do Rio Grande do Sul, em 2002, que levou à derrota na eleição estadual e perda do governo, então comandado pelo partido.

Na ocasião, o governador era Olívio Dutra que perdeu o direito de disputar a reeleição ao ser derrotado pelo então prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, em prévias do partido. Genro, hoje ministro da Justiça, foi derrotado na eleição a governador por Germano Rigotto (PMDB).

O episódio gaúcho, acompanhado de perto por Dilma, então secretária estadual de Minas e Energia, foi relembrado por ela com apreensão na segunda-feira, em conversa com o deputado Antonio Palocci (SP), o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra, e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel - um dos protagonistas do racha mineiro. A ministra alertou para a semelhança dos dois casos.

O processo sucessório em Minas divide Pimentel e o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social). Ambos disputam a candidatura a governador. Patrus propôs à direção regional do partido a realização de prévias partidárias para a escolha do candidato. Pimentel é contra as prévias, mas não abre mão da indicação.

Esse confronto dificulta a negociação do PT com o PMDB do ministro Hélio Costa (Comunicações), hoje o pré-candidato que lidera as pesquisas de intenção de voto. Patrus é aberto à aliança com Costa, opção rejeitada por Pimentel e seu grupo. A indefinição no PT impede a escolha de um interlocutor para conversar com o PMDB. Costa quer a coligação e sugere, como critério de escolha do candidato a governador, o desempenho em pesquisas. Mas garante que disputa o governo de Minas com ou sem o apoio do PT (ver reportagem à página A7).

O PT, no entanto, nem sequer tem condições de discutir com o PMDB local as bases de uma eventual aliança, por falta de interlocutor. O grupo de Pimentel venceu as eleições para o diretório estadual, com uma diferença pequena. O partido ficou dividido. Patrus não se sente representado pela direção partidária na questão da sucessão estadual.

A presença de Pimentel na reunião de segunda-feira, em Brasília, não significa apoio de Dilma ou do grupo. Para o PT nacional, o processo está radicalizados pelos dois lados e é preciso tentar um "acordo de procedimentos". A tarefa caberá a Dutra, que tomará posse na presidência do partido no dia 10 de fevereiro. Ele ficou encarregado de propor conversas formais com Pimentel e Patrus, separadamente, em busca de entendimento e de aproximação.

Segundo um participante da reunião de segunda-feira com Dilma, Dutra teria dito que, no caso do PT de Minas, tem que prevalecer o espírito mineiro, de conversa e conciliação na política, e não o espírito petista.

A solução para o campo governista em Minas passa pelo que for melhor para a candidatura da ministra Dilma Rousseff. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva gostaria que Pimentel fosse o coordenador da campanha da ministra e de um acordo com o PMDB. Mas a avaliação corrente entre petistas é que Hélio Costa dificilmente terá condições de sustentar uma disputa com o candidato do governador Aécio Neves, o atual vice-governador do Estado, Antonio Anastasia.

Um sinal de distensão foi dado pelo ministro Patrus Ananias no início da semana, ao dizer que fará o que o presidente Lula e o vice-presidente da República, José Alencar, julgarem melhor para a eleição de Minas Gerais. Pimentel, aliás, que ficou em Brasília após a reunião com Dilma na noite de segunda-feira, ontem mesmo procurou Alencar para uma conversa - o ex-prefeito de Belo Horizonte nem se preocupou em acompanhar Dilma e Lula na viagem que os dois fizeram a Juiz de Fora (MG).

A previsão, no entanto, é que a situação mineira não será resolvida antes do Carnaval. Até lá, os três lados em disputa, no campo governista, devem manter ou mesmo tensionar suas posições, de maneira a entrar na negociação final mais bem colocados. O PMDB nacional, por exemplo, joga com a Vice-Presidência da República pelo menos ao avalizar a candidatura de Hélio Costa, um dos que almejam o cargo no partido.

Pimentel é o candidato do PT mais bem posicionado nas pesquisas. Na disputa interna, Patrus conta com o apoio do ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) e está mais próximo do PMDB que Pimentel. Mas o ex-prefeito de Belo Horizonte, dos três, é o mais próximo da ministra Dilma - a amizade entre os dois é do tempo em que ambos militavam no movimento estudantil, na capital mineira.