Título: Iris Rezende e Meirelles começam a definir candidatura em Goiás
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 15/01/2010, Política, p. A6

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, ambos do PMDB, devem conversar na próxima semana. É pouco provável que o futuro político imediato dos dois seja anunciado em seguida. Mas, a política goiana pode estar prestes a apresentar uma surpresa: a desistência da candidatura, até agora tida como definitiva, de Iris ao governo e o apoio do longevo cacique pemedebista ao presidente do BC nas eleições de outubro.

Com 76 anos, problemas de saúde - fez recentemente uma cirurgia - e um "trauma eleitoral" em 1998, quando foi literalmente "humilhado" nas urnas pelo tsunami Marconi Perillo (PSDB-GO), o prefeito não demonstra disposição para repetir a experiência. É o chefe incontestável de uma das unidades da federação pemedebista (Goiás) e deve também avaliar a situação com os outros caciques regionais do partido.

A pré-campanha em Goiás é uma das mais movimentadas e surpreendentes do país, até agora, e deve ter reflexos na eleição presidencial. Além da eventual presença de um ex-presidente do BC na disputa, a eleição de 2010 pode contar com a candidatura, ao governo estadual, do maior empresário do setor de carnes, José Batista Jr., do frigorífico JBS-Friboi, que pensa em se lançar pelo PTB. E pode representar também a volta do "homem do cavalo branco", como em 1989 o deputado Ronaldo Caiado, hoje líder do DEM, entrou na disputa.

Para o PMDB, a eventual desistência de Iris é mais um espaço que se abre à negociação. E não é um espaço qualquer: embora no Palácio do Planalto acredite-se que Meirelles ficará até o fim do governo no cargo, os pemedebistas acham que ele se filiou ao partido, aconselhado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para mais tarde ser encaixado como candidato a vice-presidente da República na chapa de Dilma Rousseff, a candidata do PT.

A cúpula do PMDB, no entanto, informou ao presidente Lula que a escolha do vice é um assunto que deve ficar para depois que as situações nos Estados forem resolvidas. Inclusive em Goiás, território com a bandeira pemedebista desde a primeira eleição direta para governador, ainda no regime militar, em 1982, controle só interrompido em 1998 numa eleição que abateu Iris Rezende.

Doze anos após a derrota para Perillo, o fantasma da "panelinha" ainda assombra. Em 1998, ele perdeu uma eleição na qual entrou virtualmente eleito, com mais de 70% das intenções de voto contra minguados 3% do tucano. Parecia o fim de uma carreira iniciada em 1958, como vereador, e que teve a sua primeira morte em 1969, quando era prefeito de Goiânia e perdeu o cargo ao entrar numa leva de políticos que tiveram o mandato cassado pelo regime militar.

Voltou quando o regime ensaiou a abertura política e permitiu eleições diretas para governador, em 1982. A partir daí construiu uma carreira vitoriosa. Das dez eleições que disputou até agora, perdeu duas. O político moderno dos anos 60 tornou-se também um cacique oligarca ao longo dos anos, condição que foi fatal na eleição de 1998, uma das duas das quais saiu derrotado: Perillo explorou com maestria o fato de o Estado estar havia anos controlado pela mesma "panela" - uma faísca que incendiou a campanha goiana e transformou em pó a candidatura de Iris.

A campanha virou um "case". Para usar o mote da renovação, Perillo explorou o fato de que Iris e seus aliados dominavam o Estado havia 16 anos. A encarnação dessa imagem foi o "Nerso da Capitinga", personagem "Escolinha do Professor Raimundo", da TV Globo, encenado pelo humorista Pedro Bismarck.

"Nerso" ironizava a esmagadora participação da família de Iris e de seus aliados na política local, como "tudo da mesma panela" e aparecia sempre segurando uma panela. Proibido de usar o utensílio durante a campanha, o humorista substituiu-a por um chapéu de ferro, semelhante a uma panela.

Foi a segunda morte política de Iris, que na eleição seguinte, em 2002, sofreria sua outra derrota, na disputa pelo Senado. Quando parecia carta fora do baralho goiano, voltou por onde tudo começara: a Prefeitura de Goiânia, ao derrotar o PT. Mas já na reeleição de 2008, reflexo da aliança nacional entre os dois partidos, indicou um petista para ser seu vice e foi reeleito. Hoje uma das dificuldades de Iris para deixar o cargo a fim de concorrer ao governo é o vice Paulo Garcia, que ameaça construir uma carreira solo.

Iris não tem certeza de que o PT vá apoiá-lo em eventual candidatura ao Estado. "O Iris não tem definição sobre a candidatura. Precisa de um bom entendimento com o PT para deixar a prefeitura para disputar o governo estadual", comentou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, integrante da executiva. "Ele ainda vai definir com Meirelles quem será o candidato."

Auxiliares próximos ao prefeito, pemedebistas e até petistas têm dúvidas sobre a intenção de Meirelles aceitar a disputa estadual e dizem que se o presidente do BC não for candidato, o PMDB "não tem escolha" a não ser indicar Iris. "O prefeito é o nome mais forte no Estado. É o que tem mais tradição", disse o deputado Pedro Wilson (PT), derrotado na disputa de 2004.