Título: Grandes instituições calculam custos do novo tributo
Autor: Guha , Krishna
Fonte: Valor Econômico, 15/01/2010, Financeira, p. C2

A proposta da administração Obama de taxar as instituições financeiras poderá custar ao J.P. Morgan Chase e ao Bank of America (BofA) mais de US$ 1,5 bilhão cada, atrapalhar a recuperação do setor e reprimir o interesse dos investidores nas ações de bancos. A afirmação foi feita ontem por analistas. "Isso não é algo que vai conduzir a um ambiente amigável ao investidor", disse Peter Sorrentino, que ajuda a administrar US$ 13,8 bilhões para a Huntington Asset Advisors de Cincinnati. "Os lucros serão afetados por esse imposto. Ele vai manter o setor amarrado, sem que ele nunca consiga ficar saudável ou sair do jugo do governo."

O BofA, o maior banco dos EUA, teria que pagar US$ 1,53 bilhão por ano, ou US$ 0,18 por ação, enquanto o J.P. Morgan, o segundo maior banco americano, teria que pagar US$ 1,52 bilhão, ou US$ 0,38 por ação, segundo um relatório divulgado ontem pelo analista Sean Ryan, da Wisco Research. O imposto representaria 22% do lucro por ação esperado para o BofA em 2010 e 12% do lucro esperado para o J.P. Morgan, segundo Ryan.

"Usar a política fiscal para punir as pessoas é uma má ideia", disse ontem em Washington o executivo-chefe do J.P. Morgan Jamie Dimon, depois de uma audiência na Comissão de Investigação da Crise Financeira. "Todas as empresas tendem a repassar seus custos para os clientes."

Os dois bancos, juntamente com o Citigroup e o Goldman Sachs, estão entre os maiores beneficiados pelo Tarp. O imposto ajudaria a pagar o programa, que custou US$ 700 bilhões aos contribuintes americanos. Segundo estimativas de Ryan, o novo imposto custaria US$ 1,37 bilhão ao Citi (US$ 0,11 por ação), e US$ 1,16 bilhão ao Goldman Sachs (US$ 2,01).

"A verdade é que a maior parte desse imposto será pago pelos clientes", diz o relatório de Ryan, cuja firma tem sede em Madicon, Wisconsin. "Assumimos que a "taxa" não é deduzível dos impostos. Não temos certeza disso, mas fazemos uma suposição uma vez que se trata fundamentalmente de um esforço punitivo." O imposto baseado nas obrigações dos bancos começa a vigorar em 30 de junho sobre as 50 maiores instituições financeiras americanas. O governo estima que vai levantar US$ 90 bilhões em 10 anos, segundo um funcionário que passou informações a jornalistas sob a condição de permanecer no anonimato. O imposto será aplicado a instituições financeiras com ativos superiores a US$ 50 bilhões.

O presidente Barack Obama disse ontem que o imposto pretende recuperar "cada centavo" que os contribuintes cederam às instituições financeiras. "Já estamos ouvindo um alarido de Wall Street, sugerindo que o tributo proposto não é bem-vindo e injusto, e que por uma lógica torcida seria mais apropriado para o povo americano arcar com os custos do plano de socorro, em vez do setor que se beneficiou dele, embora os executivos estejam se concedendo bonificações enormes", disse Obama. Em 2009, os bancos devolveram US$ 165 bilhões ao Tesouro, permitindo a ele recuperar cerca de dois terços de seu investimento no plano de socorro.