Título: EUA vão pressionar países a seguir seu exemplo e impor taxa a bancos
Autor: Guha , Krishna
Fonte: Valor Econômico, 15/01/2010, Financeira, p. C2

Os Estados Unidos vão pressionar outros países para que sigam seu exemplo e imponham um tributo às grandes instituições financeiras para recuperar parte dos custos da crise financeira. A informação foi dada ontem ao "Financial Times" por funcionários do governo americano.

A iniciativa segue-se ao anúncio do plano oficial de tributação pelo presidente Barack Obama, que criticou as bonificações "obscenas" pagas pelos bancos aos seus executivos e prometeu "recuperar cada centavo devido ao povo americano" dentro do programa de ajuda aos ativos problemáticos (Tarp, na sigla em inglês).

O presidente americano - que se mostrou ávido por iniciar um briga com os grandes bancos - disse: "Conclamo vocês a cobrirem os custos do resgate não com o pensamento nos acionistas, clientes ou os cidadãos, mas sim reduzindo as bonificações".

Assessores disseram que o imposto vai recuperar pelo menos US$ 90 bilhões das 50 maiores instituições financeiras - incluindo subsidiárias americanas de bancos estrangeiros e companhias de seguros, além dos maiores bancos dos EUA.

O Tesouro dos EUA pretende exortar outros grandes centros financeiros a adotarem uma postura parecida, forçando o setor financeiro a pagar pelos planos de resgate, em vez de adotar impostos adicionais permanentes para os bancos com o objetivo de formar fundos para futuros resgates.

Governos de outros países - que não foram consultados pela administração Obama antes do anúncio do plano - no geral receberam bem a iniciativa americana. "Realmente comemoro essa proposta do governo dos EUA porque ela mostra que o momento político para se adotar essa direção ainda existe", disse Dominique Strauss-Khan, diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), a jornalistas em Washington, ontem.

Mas funcionários do governo americano e de outros países disseram que outras nações vêm desenvolvendo seus próprios planos de tributação futura e poderão não adotar o modelo americano. "Já cobramos impostos de maneira apropriada, de modo que seria difícil ir até os bancos e cobrá-los novamente", disse um funcionário do governo britânico.

O imposto americano será cobrado a uma taxa de 15 pontos-base sobre as obrigações de dívida que não depósitos segurados. O Tesouro estima que 60% dos impostos recolhidos poderão ser pagos pelas dez maiores instituições financeiras do país, com a carga recaindo de uma maneira desproporcional sobre os bancos de investimento e outras instituições com pequenas bases de depósitos nos EUA. Analistas disseram ontem que o imposto terá um impacto sobre os grandes bancos e companhias como a GE Capital, e poderá levá-las a repassar parte de seus custos para os clientes.

Executivos das subsidiárias americanas de bancos estrangeiros reagiram com surpresa e irritação à notícia de que terão que pagar o imposto. O presidente de um banco europeu disse que isso poderá levar seu banco a reduzir suas operações nos EUA abaixo do piso de US$ 50 bilhões em ativos, para que ele possa ficar isento do tributo.