Título: Lula rejeita concorrer à Secretaria-Geral da ONU
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2010, Brasil, p. A3

Umapossível candidatura à Secretaria-Geral da Organização das NaçõesUnidas (ONU) é opção descartada pelo presidente Luiz Inácio Lula daSilva, garantem seus principais interlocutores. Sugerida ao próprioLula pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, no ano passado, aeventual candidatura foi noticiada nesta semana pela revista "Time",reavivando especulações sobre as suas ambições internacionais apósdeixar o cargo, em dezembro. Lula disse a Sarkozy, na ocasião, queconsidera ter um perfil diferente do desejado para um secretário-geralda ONU.

O presidenteimagina que o cargo na ONU é para ser ocupado por funcionáriosinternacionais, burocratas especializados e já habituados comorganizações multilaterais. Ele não informou a seus auxiliares tertomado nenhuma decisão sobre o futuro. Mas, como o Valor publicou,em dezembro, mantém a organização do que seu chefe de gabinete,Gilberto Carvalho, chama de "Instituto Lula", uma futura organizaçãopara abrigar o acervo acumulado durante a presidência e servir de basepara a atuação política do presidente, após o fim do mandato.

O"Instituto Lula" serviria para que comandasse ações de cooperação com aÁfrica e, possivelmente, a América Latina, em ações como o estímulo àadoção de técnicas agrícolas desenvolvidas pela Embrapa. Especula-se,que o secretário-executivo dessa ONG poderia ser o ministro de RelaçõesExteriores, Celso Amorim.

Esseprojeto seria mais adequado ao perfil de Lula, segundo indica o própriopresidente. Embora o desconhecimento da língua inglesa não tenhaimpedido que Lula se projetasse desembaraçadamente como uma celebridadeinternacional e até firmasse laços de amizade insólitos, como oscriados com o ex-presidente dos EUA, George W. Bush, a incapacidade defalar a língua seria um obstáculo importante para as atividades de umsecretário-geral da ONU.

Osistema de escolha do cargo também não aponta este momento como o idealpara uma candidatura Lula. Além de requerer apoio do Conselho deSegurança da ONU - unanimidade difícil em função da criticadaaproximação de Lula com países como Irã e Cuba - a tendência é dereeleição do atual secretário-geral, Ban-Ki-Moon, ou de suasubstituição por outro nome do grupo asiático.

Pelosistema informal de rotatividade do posto, após o mandato de umasiático deveria se seguir a indicação de um secretário originado dospaíses ricos ocidentais, que não ocupam o cargo desde que o austríacoKurt Wadheim foi sucedido, em 1982, pelo peruano Javier Pérez deCuellar, último latino-americano a assumir o posto.

Lulatem, em relação a cargos em instituições financeiras internacionais amesma resistência a ocupar o posto da ONU, por acreditar que são cargospara burocratas. Se der seguimento à ONG com projetos para a África,ele terá, como ambição, incentivar o Brasil a ocupar espaços que vê,preocupado, serem tomados pela China, em projetos de desenvolvimento,comércio e exploração de recursos naturais no continente africano.