Título: Para Ipea, fim de benefícios traz ganhos
Autor: Viviane Monteiro ,
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2010, Brasil, p. A4

O Brasil é o único dosgrandes países emergentes que obterá fôlego fiscal adicional com aretirada de desonerações que foram dadas no rastro da crise econômicaglobal, segundo o presidente do Instituto de Pesquisa EconômicaAplicada (Ipea), Marcio Pochmann. O impacto fiscal das medidas no anopassado foi um déficit de 0,6% do PIB. Agora, a tendência se invertepara superávit adicional de 1,8%, com o fim da ação fiscal e expansãoeconômica acima de 5%, conforme Pochmann mostrou em debate ontem naOrganização Internacional do Trabalho (OIT).

Emcomparação, as medidas fiscais da Rússia vão resultar no dobro dodéficit, que também aumentará na Índia, cairá ligeiramente na China eÁfrica do Sul e ficará na mesma situação no México, pelo estudo do Ipea.

A OIT publicou estudoestimando que o estímulo fiscal no Brasil teria alcançado no anopassado US$ 39,5 bilhões, representando 6,7% do PIB, o maior entre umgrupo de economias estudadas, incluindo Alemanha (2,2%, ou US$ 110,7bilhões), Canadá (2,6%, ou US$ 61,6 bilhões) e Austrália (4,7%, ou US$47 bilhões). Pochmann, porém, se disse surpreso com as cifras que,segundo a OIT, são baseadas em levantamentos do FMI, Ministério daFazenda e Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Os países membros daOIT examinaram ontem políticas que permitem uma saída exitosa da crisedo emprego, por iniciativa da presidente do conselho de administraçãoda entidade, a embaixadora brasileira Maria Nazareth Farani de Azevedo,e também da França.

Aconclusão foi de que a retirada prematura dos estímulos fiscais poderáresultar numa crise social mais grave depois, com mais desemprego emenos produção. Como o Valor antecipou, a OIT estima que só nospaíses ricos a saída apressada das medidas de urgência criaria 16milhões de desempregados até 2014.

Nocaso do Brasil, a situação é bem diferente, segundo Pochmann, quelembrou que nos últimos tempos os países fora do grupo dos ricosfizeram 75% do crescimento mundial. Ele considerou que a pior criseeconômica dos últimos tempos foi também uma oportunidade para a adoçãode medidas inovadoras, que se opuseram ao receituário ortodoxo.

Opresidente do Ipea citou que vários emergentes passaram por uma"recessão branda" porque, como no Brasil, o governo aplicou maciçamentepara garantir investimentos e crédito para manter emprego e produção,enquanto os países ricos usaram a ação fiscal para sustentar os bancosem estado falimentar.

Umdos representantes do setor privado brasileiro, Lima Godoy, observouque os estímulos aumentaram o número de funcionários públicos e,portanto, o déficit público, que os juros continuam muito elevados -numa situação de câmbio desfavorável - e que, passada a crise, o Estadodeve deixar o terreno para as empresas. "Concordo que as medidas sãoemergenciais, anticíclicas", respondeu Pochman, enquanto váriosdebatedores elogiaram a experiência brasileira.