Título: Equador cobra mais investimentos da Petrobras no país
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Fonte: Valor Econômico, 23/03/2010, Internacional, p. A10

O ministro de Recursos Não Renováveis do Equador e também presidente do cartel da Opep, Germánico Pinto, cobrou ontem da Petrobrasseu plano de investimentos no país, avisando que espera definir o novomodelo de contrato com as petroleiras estrangeiras nas próximas semanas.

Em entrevista ao Valor,Pinto afirmou que o Equador está renegociando os contratos para ogoverno ter mais controle e mais receita com a matéria-prima e que"todas as empresas precisam realizar investimentos".

Oministro disse esperar que a Petrobras "incremente os investimentos e aprodução" com base no novo modelo de contrato. "Antes, a participaçãoera meio a meio, com a [empresa] estrangeira ficando com a metade dopetróleo. Agora, vamos pagar a Petrobras uma taxa pelo barril queexplorar", disse em Genebra, evitando porém mesmo especular sobre opercentual.

Falando àmargem de um fórum global sobre commodities, o ministro disse que aspetroleiras estrangeiras no Equador investem cerca de US$ 410 milhõeseste ano, enquanto a companhia nacional investirá US$ 1,7 bilhão pararecuperar a produção.

"Agoraa maior renda do petróleo vai de fato para o povo equatoriano", disse oministro. Ele acredita que a renegociação dos contratos não vaiafugentar os investidores externos "porque nosso modelo é o que vemsendo aplicado em outros paises", acrescentou, sem dar exemplo.

Navisão equatoriana, o novo modelo de prestação de serviço vai ao mesmotempo reforçar as companhias petroleiras e a propriedade dos recursosnaturais por parte do Estado, que, diz Pinto, "deve ser forte".

Parao ministro, as negociações com a Petrobras estão em processo normal,apesar da cobrança de investimentos. Ele disse que o Equador querfavorecer alianças estratégicas com companhias nacionais de petróleo.Espera também desenvolver cooperação com o Brasil na área de exploraçãomineral, "para aprendermos".

APetrobras ainda não respondeu ao governo equatoriano se pretendecontinuar operando no país como prestadora de serviços. Em relação aoutras países, a empresa brasileira disse que esse modelo não ainteressava.

Igualmentepresidente do cartel da Opep (Organização dos Países Produtores dePetróleo), Germánico Pinto disse não ter lembrança de a entidade terrecebido qualquer demanda até hoje do Brasil para se tornar membro docartel do petróleo, "mas as portas estão abertas".

AAgência Internacional de Energia (AIE, que reúne os paísesconsumidores) avalia que o corte em novos projetos de exploração eprodução de petróleo este ano alcança US$ 90 bilhões, sobretudo noCanadá.

Mas Pinto achaque o preço atual do barril, entre US$ 70 e US$ 80, é suficientementealto para encorajar os produtores a investir e suficientemente baixopara ajudar a retomada econômica. Em julho de 2008, o preço, que era deUS$ 145, começou a cair e chegou até a US$ 40.

Váriasautoridades da área energética, incluindo as do Catar, defenderamregras mais duras contra a especulação nas commodities, estimando queisso afeta duramente os investimentos necessários no setor.

Pintoacha, em todo caso, que o preço atual é satisfatório inclusive para aexploração do pré-sal no Brasil, que ele vê como grande sucesso para opaís. E, repetindo o discurso do cartel, falou de "expectativasirrealistas" sobre energias alternativas.

Porsua vez, o diretor-geral da Agência das Nações Unidas para o Comércio eo Desenvolvimento (Unctad), Supachai Panitchpakdi, considerou que aeconomia mundial está "lentamente saindo da recessão", e citou comoexemplo a retomada nos preços de certas commodities, inclusive dopetróleo.

Segundo aUnctad, a falta de crédito provocou o adiamento de aumento dacapacidade de produção de petróleo de mais de 3,5 milhões de barris aodia, que estava previsto para 2012. De qualquer forma, a capacidade nãousada dos membros da Opep passa de seis milhões de barris ao diaatualmente, segundo Pinto.