Título: Gastança federal
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 30/06/2010, Economia, p. 12

Os ganhos da arrecadação, que vêm batendo recordes sucessivos, não estão sendo suficientes para o governo pôr as suas contas sob controle. O superavit primário, que corresponde a tudo que o setor público conseguiu poupar, sem contar o pagamento de juros da dívida, atingiu, em maio, R$ 1,43 bilhão, o segundo pior resultado para este mês de toda a série histórica do Banco Central, iniciada em 1991. Em maio de 2009, em plena crise mundial, a economia para o pagamento de juros foi de R$ 1,119 bilhão e, no mesmo mês de 2008, de R$ 8,52 bilhões.

A gastança, segundo dados divulgados ontem pelo BC, está concentrada no governo central, que inclui o Tesouro Nacional, o próprio banco e a Previdência Social. As contas registraram deficit de R$ 1,43 bilhão, o pior resultado para o meses de maio. Ou seja, o saldo final ficou positivo graças à economia feita por estados e municípios, que vêm mantendo o compromisso com o ajuste fiscal, a despeito da proximidade das eleições.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, reconheceu que o superavit primário do mês passado foi ruim. ¿As despesas estão crescentes¿, admitiu. Mas, para minimizar as possíveis críticas à gastança, ele disse que os maiores desembolsos foram para investimentos, especialmente em obras de infraestrutura, que de maio de 2009 a maio deste ano, cresceram 54,6%.

Endossando esse discurso, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, assegurou ser natural que ocorram oscilações bruscas no resultado primário com o aumento dos investimentos, por conta da dinâmica de pagamento dessas despesas. No ano, os investimentos realizados diretamente pelo governo federal totalizaram R$ 16,6 bilhões.

Desconfiança Altamir destacou que os investimentos também pesaram nas contas de estados e municípios.

Tanto que os superavits de maio foram menores em relação a períodos anteriores.

Já empresas estatais destoaram e, no conjunto, computaram resultado positivo de R$ 1,39 bilhão, o melhor para o mês desde 2006. No acumulado de 12 meses, a economia total do setor público para o pagamento de juros atingiu R$ 70,68 bilhões, o equivalente a apenas 2,13% do Produto Interno Bruto (PIB), revelando uma piora em relação a abril, quando o saldo representava 2,15% do Produto.

Diante desses números, aumentou a desconfiança dos analistas quanto à capacidade do governo de cumprir a meta de superavit para todo o ano, de 3,3% do PIB. Na avaliação do chefe do Departamento Econômico do BC ainda é possível virar o jogo, graças ao contínuo aumento da arrecadação de impostos.

¿Vamos ter resultados melhores nos próximos meses¿, garantiu.