Título: Operação compromissada superou R$ 500 bi
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 26/02/2010, Finanças, p. C1

O saldo das operações compromissadas do Banco Central - referentes à negociação de títulos públicos com compromisso de recompra/revenda - ultrapassou a marca de meio trilhão de reais em janeiro. Em comparação ao que eram no fim de dezembro (R$ 427,87 bilhões), tais operações, também denominadas de mercado aberto, aumentaram em R$ 80,8 bilhões, fechando o mês em R$ 508,7 bilhões.

Tal elevação ajudou a aumentar a parcela da dívida pública líquida com remuneração vinculada à taxa Selic, onde entram as compromissadas. Depois de ter caído de 67% para 62% de julho para dezembro de 2009, a fatia atrelada à Selic subiu para 70,4% em janeiro, percentual equivalente a R$ 927,8 bilhões. A dívida líquida total, por sua vez, fechou janeiro em R$ 1,317 trilhão.

Divulgado ontem pelo Departamento Econômico (Depec), o dado sobre as operações de mercado aberto ajuda a explicar por que a autoridade monetária anunciou, anteontem, uma elevação dos recolhimentos compulsórios dos bancos ao BC, revertendo parcialmente a flexibilização feita em 2008, por causa da crise financeira de liquidez.

As operações compromissadas são um instrumento do BC para controlar a oferta de moeda na economia, ou seja, a liquidez monetária. Quanto maior a liquidez, maior precisa ser o esforço de colocação de títulos públicos, a fim de recolher o excesso de moeda, quando se entende que há excesso. As medidas anunciadas anteontem reverterão parcialmente a flexibilização de compulsórios, obrigando os bancos a recolher liquidamente às suas reservas no BC R$ 71 bilhões em dinheiro. O chefe do Depec, Altamir Lopes, concorda que isso tende a reduzir o estoque de operações compromissadas, já que o uso desse instrumento será menos necessário.

Altamir pondera, no entanto, que há outros fatores que interferem na liquidez do sistema financeiro e que também precisam ser neutralizados via colocação de títulos, quando implicam oferta de moeda acima da considerada ideal pelo BC. Dependendo desses outros fatores, portanto, não necessariamente o saldo das compromissadas vai cair, embora essa seja a tendência, na sua opinião.

Um dos fatores que interfere diretamente na liquidez do sistema financeiro são as intervenções do BC no mercado de câmbio, lembrou Altamir. Só em janeiro, as aquisições de moeda estrangeira feitas pela autoridade monetária no mercado interbancário injetaram na economia R$ 3,07 bilhões. Isso significa que foi mantida, no início deste ano, a tendência verificada ao longo de quase todo o ano de 2009, quando os leilões de câmbio do BC implicaram expansão monetária de R$ 62,93 bilhões e, por consequência, aumento das operações de mercado para aberto para neutralizá-la.

Justamente por causa do efeito no saldo das operações compromissadas, a política de acumulação de reservas cambiais, que pressupõe intervenções de compra no mercado cambial, tem preocupado o Tesouro Nacional, emissor dos papéis de dívida usados pelo Banco Central. A variação do saldo das compromissadas em 2009, no entanto, foi bem superior ao efeito provocado pela compra de moeda estrangeira pelo BC. Em relação a dezembro de 2008, o estoque dessas operações cresceu R$ 200,8 bilhões até fim do ano passado.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que a volta dos depósitos compulsórios aos níveis pré-crise deve provocar "pequena restrição de liquidez", mas sem prejuízo ao crédito. Na sua avaliação, a medida anunciada quarta-feira pelo Banco Central (BC) é "adequada" e terá efeito positivo para a economia já que o crédito está "normalizado".

O aumento das taxas de juros praticadas pelo sistema financeiro, de acordo com Mantega, não tem relação com as medidas anunciadas na quarta-feira pelo BC. Esse movimento, segundo ele, depende de uma série de variáveis, mas, apesar disso, não vê razão para a elevação dos juros e dos "spreads" bancários. (Colaborou Arnaldo Galvão).