Título: China deve anunciar déficit comercial e usar o dado em negociação com EUA
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 09/04/2010, Internacional, p. A11

A China poderá anunciar seu primeiro déficit comercial em seis anos, após um aumento nas importações de commodities e de bens de consumo, enfraquecendo os argumentos americanos de que o país mantém sua moeda desvalorizada para ganhar uma vantagem.

As importações provavelmente superaram as exportações em US$ 390 milhões em março, após um superávit comercial de US$ 7,6 bilhões no mês anterior, de acordo com a estimativa mediana numa pesquisa da Bloomberg News envolvendo 26 economistas. O governo deve divulgar os números hoje. Parte da guinada para um déficit deve-se, provavelmente, à alta das dos preços de commodities, disseram os economistas.

O secretário do Tesouro dos EUA, Timothy F. Geithner reuniu-se anteontem em Pequim com o vice-premiê chinês, Wang Qishan, em meio a crescentes pressões de parlamentares americanos que defendem ações para conter o déficit comercial dos EUA com a China, que somou US$ 227 bilhões no ano passado. O governo do premiê Wen Jiabao disse que um yuan estável e seus 4 trilhões de yuans (US$ 586 bilhões) em estímulo fiscal contribuíram para a recuperação mundial.

"A China tem feito muita coisa em termos de reestruturação dos desequilíbrios mundiais", disse Michael Buchanan, economista do Goldman Sachs. Quaisquer impactos da valorização do yuan serão "mínimos, diante de oscilações na balança comercial decorrentes das demandas domésticas chinesa e americana."

A China manteve o yuan fixo em torno de 6,83 por dólar desde julho de 2008, procurando ajudar os exportadores. Mesmo assim, as exportações caíram 13 meses seguidos, reduzindo o superávit comercial do país em 34%, no ano passado, para US$ 196 bilhões.

As consequências indesejadas deixaram as autoridades econômicas relutantes em apressarem-se a reverter as medidas emergenciais, apesar de o crescimento acelerado e um boom recorde de crédito ameace criar uma bolha imobiliária. O presidente do Banco do Povo (banco central), Zhou Xiaochuan, disse mês passado que as autoridades querem ter certeza de que o mundo não está numa recuperação "em forma de W".

A visita de Geithner e sua decisão, na semana passada, de adiar a decisão do Tesouro americano sobre qualificar a China como "manipuladora do câmbio", em um relatório semestral, intensificaram as especulações de que as autoridades iriam por fim à paridade.

O Goldman Sachs prevê que o governo anunciará nas próximas semanas um alargamento da banda de 0,5% em que os chineses permitem a flutuação do yuan em relação ao dólar.

Buchanan disse que a fixação do valor yuan em relação a uma cesta de moedas - ponderado pelo volume de comércio da China com as principais economias - deverá proporcionar às autoridades maior flexibilidade e reduzirá o risco de que traders passem a apostar unilateralmente na valorização do yuan frente ao dólar.

As exportações da China cresceram provavelmente 26,9%, em março, em relação a doze meses antes, após uma expansão de 45,7% no mês anterior, segundo levantamento da Bloomberg junto a economistas. As importações podem ter crescido 55,7%, em comparação com um ganho de 44,7%, segundo a previsão mediana.

O superávit comercial encolheu durante quatro meses consecutivos, até fevereiro. A mudança reflete a acelerada atividade da indústria chinesa e as vendas no varejo, num momento em que os gastos americanos sofrem o impacto de cortes de empregos e da queda no valor das moradias.

O crescimento da terceira maior economia do mundo acelerou para 10,7% no quarto trimestre de 2009, em seu ritmo mais rápido desde 2007. O déficit comercial em março pode não ser sustentável, se as exportações retomarem ritmo.