Título: Dia de pânico nas bolsas
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 30/06/2010, Economia, p. 17

Onda de aversão a riscos abala o mercado financeiro mundial e chega ao Brasil. Bovespa cai 3,5%, segunda maior queda no ano

Osentimento de aversão ao risco abalou ontem o mercado financeiro mundial. As bolsas de valores despencaram em todos os continentes, em claro sentimento de desconfiança com os rumos do desenvolvimento global, depois que o Conference Board norte-americano, alegando erro de cálculo, revisou para baixo seu indicador referente ao desempenho da China, em abril, de 1,7% para 0,3%. Os analistas consideraram tratarse de uma preocupante baixa, quando comparada ao crescimento de 1,2%, em março. A Bolsa de Valores de São Paulo seguiu a tendência.

O Ibovespa, principal índice da BM&FBovespa, fechou com perdas de 3,5%, a segunda maior queda do ano, desde 4 fevereiro, acompanhando a desvalorização de 2,65% do Índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, o menor patamar desde 10 de junho.

No trimestre, o Ibovespa já recuou 11,93%, o pior desempenho desde o terceiro trimestre de 2008, quando despencou 23,8%. Mas é importante lembrar que, exatamente naquele momento, estourava a crise financeira mundial com a quebra do Lehman Brothers, nos Estados Unidos, em setembro.

No mercado interno, os setores de siderurgia, mineração e petróleo foram os responsáveis pela queda. Os papéis da Cia.

Vale do Rio Doce caíram 4,82% e os da Petrobras retrocederam 2,5%. ¿A Petrobras caiu menos que o Ibovespa devido a um boato durante o pregão que animou os investidores. Comentase que a estatal autorizou quem participar do processo de capitalização a usar títulos públicos¿, explicou Pedro Braz, operador da Corretora Tov.

Europa A apreensão dos investidores cresceu também pela proximidade do vencimento de uma linha de crédito do Banco Central Europeu (BCE). Mais de mil bancos da região terão de pagar cerca de 440 bilhões de euros para a instituição, amanhã, por empréstimos de 12 meses. A credibilidade na Europa ficou ainda mais fraca, com as notícias de que, na Grécia, trabalhadores de diversos setores paralisaram o trabalho e voltaram a se manifestar contra as medidas de austeridade do governo.

Outro foco de insegurança está no Japão, onde as pesquisas apontaram que o desemprego aumentou para 5,2%, em maio, contra 5,1%, em abril. A expectativa era de que a taxa caísse para 5%. Também ocorreram quedas na produção industrial e no consumo interno.

Nos EUA, o presidente Barak Obama garantiu que seu país está se fortalecendo, mas não afastou as preocupações com a queda na confiança do consumidor, que ficou em 52,9 pontos.

O mercado esperava em torno de 62,0 pontos.

Derretimento Por conta desse conjunto de fatores negativos, as principais bolsas europeias encerraram o dia em queda. A bolsa de Madri liderou as perdas com uma baixa de 5,45%. A de Milão encolheu 4,44%. A bolsa de Paris perdeu 4,01%, a de Frankfurt, 3,33%, e a de Londres, 3,10%. A turbulência também afetou os mercados asiáticos. A bolsa de valores da China foi a que mais sofreu, fechando em queda pela quinta sessão seguida. O baque foi de 4,3%, a maior perda em 14 meses (desde 28 de abril de 2009). A bolsa de valores de Hong Kong despencou 2,3%. E a de Tóquio perdeu 1,27%.

Receosos, os investidores voltaram a se proteger em ativos como dólar, iene e os títulos do Tesouro norte-americano, provocando alta de 1,5% no preço da divisa norte-americana, que fechou o dia cotado a R$ 1,810. O gerente de câmbio da Corretora Tov, Roberto José, prevê que as variações bruscas da divisa deverão continuar nos próximos 30 dias em razão da capitalização da Petrobras e da oferta pública de ações do Banco do Brasil.