Título: Goldman manterá conduta em greves
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2010, Política, p. A10

Em seu discurso de posse, o novo governador de São Paulo, Alberto Goldman, sinalizou que deve manter a conduta de seu antecessor, José Serra (PSDB), na relação com as greves de funcionários públicos da educação, saúde e segurança. "Estaremos sempre prontos a dialogar dentro do nível de respeito necessário entre nós, dirigentes eleitos pelo povo, e os servidores. Nunca com aqueles que ameaçam usar de violência. Nem vamos conciliar com os que transformam reivindicações em instrumento político com finalidade eleitoral", disse Goldman.

Na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), onde ocorreu a posse de Goldman, correligionários defenderam a negociação, em especial com os professores, cuja greve completa um mês nesta quinta-feira. Segundo interlocutores do partido, o deputado estadual Mauro Bragato, ligado à área educacional, é um dos que pressionam o governo a conversar com os grevistas.

Goldman pediu para fazer seu discurso da tribuna, "matando as saudades de quando era líder do MDB", segundo o presidente da Alesp, Barros Munhoz (PSDB).

No mesmo lugar onde há 39 anos fez seu primeiro pronunciamento, então como deputado estadual, Goldman repassou sua trajetória política. O ex-comunista, que cumpriu seu primeiro mandato sob a tensão do Ato Institucional 5 (AI-5), afirmou ser ainda o mesmo da época de militância estudantil, "apenas mais maduro, mais realista". Goldman disse que terá a responsabilidade de continuar o trabalho de José Serra, em suas palavras, "o mais preparado homem público que conheci". Serra não compareceu à cerimônia, que contou com as presenças dos ex-governadores Geraldo Alckmin (PSDB), Cláudio Lembo (DEM) e Orestes Quércia (PMDB), além do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM). Goldman, que não concorrerá à reeleição, argumentou que seu papel será contribuir para a eleição dos candidatos do seu partido à Presidência e ao governo de São Paulo, "sempre nos limites da lei e da ética, pois o exemplo de respeito a elas deve vir dos que exercem os cargos mais importantes".

Não foi a única crítica endereçada ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em outro trecho, ao relembrar sua liderança do PSDB na Câmara no escândalo do mensalão, disse que continua "intolerante frente ao mau-caratismo, à mentira, à deslealdade e à corrupção".

Após a cerimônia de posse, Goldman seguiu para os cumprimentos no Palácio dos Bandeirantes. Sobre sua gestão, Goldman disse que manterá as principais linhas da administração de Serra e que é tão "cobrador" e "obsessivo" quanto seu antecessor. O novo governador reforçou que o PSDB não pode assumir um discurso anti-Lula na campanha presidencial, mas que deve apostar no seguinte questionamento: "Quem pode fazer mais e mais rápido pelo país?", disse. Na análise de Goldman, "quem partir para a atitude agressiva vai perder".

Em consonância com a estratégia adotada pelo PSDB, de não se opor a Lula, mas apresentar-se como uma alternativa para além deste, Goldman afirmou: "Vale a pena discutir os temas reais: como serão os próximos anos, o que podemos fazer para ir mais adiante do que já fomos. Os últimos governos foram bons para o Brasil? Foram. Cada um do seu jeito, de uma certa forma. É suficiente isso? Não é. A miséria continua, a pobreza continua". "Podemos avançar mais, mais rapidamente? Podemos. Esse é o tema que temos de discutir."

Questionado sobre as críticas da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, aos tucanos, de que seriam "lobos em pele de cordeiros", Goldman afirmou que "quem não tem o que falar diz isso". "É bom que não se ataque pessoalmente, até porque todo mundo sabe que isso terá resultado negativo", disse. "Se alguém agride, o outro tem que fazer de conta que não é com ele. (É preciso) Passar por cima disso."

Além de Goldman, nove vice-governadores assumiram o comando de seus Estados após a desincompatibilização dos titulares. A maioria saiu para disputar o Senado, após dois mandatos seguidos. Apenas Serra fugiu à regra. Em Minas, Antonio Anastasia (PSDB) tomou posse na semana passada no lugar de Aécio Neves (PSDB). Em Santa Catarina, Leonel Pavan (PSDB) assumiu o cargo de Luiz Henrique Silveira (PMDB). No Amapá, com a saída de Waldez Góes (PDT), assumiu Pedro Paulo Dias de Carvalho (PP). Em Rondônia, João Cahulla (PPS) substituiu Ivo Cassol (PP). Silval Barbosa tomou posse do governo do Mato Grosso no lugar de Blairo Maggi (PR), enquanto que no Piauí, Wilson Martins (PSB) substituiu Wellington Dias (PT). No Rio Grande do Norte, saiu Wilma de Faria (PSB) e foi empossado Iberê Ferreira. Omar Aziz (PMN) assumiu o governo do Amazonas no lugar de Eduardo Braga (PMDB). Roberto Requião (PMDB) deixou o governo do Paraná para Orlando Pessuti (PMDB).

Treze governadores tentarão a reeleição neste ano. Os governadores do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB); do Acre, Binho Marques (PT), e de Goiás, Alcides Rodrigues (PP), ficarão no cargo até o fim de 2010. No Distrito Federal, o Supremo Tribunal Federal ainda decidirá pelo pedido de intervenção federal.. (Colaborou Ana Paula Grabois)