Título: Bancos criticam descaso de emergentes com inflação
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2010, Finanças, p. C5

A associação dos maiores bancos do mundo, IFF, alerta que a inflação começou a subir nas economias emergentes em meio a uma lentidão "excessiva e preocupante" dos bancos centrais para elevar as taxas de juros nesses países.

Em relatório confidencial ao qual o Valor teve acesso, a entidade presidida por Josef Ackermann, principal executivo do Deutsche Bank, aponta alta de preços maior do que a média anual de 2% nas economias industrializadas e de 4% nos emergentes.

Para a IIF, os riscos de deflação persistem no Japão e se tornam "um real perigo" na zona do euro (os 16 países que utilizam a moeda comum europeia). Já nas economias emergentes é o oposto. A inflação pela alta de preços de alimentos se acelerou em boa parte dos países, com forte demanda doméstica e expansão do crédito.

Com relação ao Brasil, a entidade espera crescimento de 5,8% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, com "upside risk". Projeta inflação de 5,5% até dezembro, bem acima dos 4,3% do ano passado e da meta fixada pelo Banco Central.

Considera que o ambiente eleitoral no Brasil (eleição presidencial em outubro), Colômbia (presidencial em maio), Venezuela (para o Parlamento em setembro) e no Peru (regional e municipal em outubro) obstrui uma estratégia de saída "ordenada e bem equilibrada" das medidas de estímulo monetário e fiscal adotadas no meio da crise global.

Estima que o primeiro endurecimento na política monetária nos Estados Unidos só virá no quarto trimestre. E que, enquanto as autoridades monetárias dos países desenvolvidos podem estar relativamente calmas sobre a falta de transferência da recente alta nos preços de alimentos e energia para produtos acabados, os emergentes deveriam "estar mais preocupados" com os efeitos dessa situação.

Reclama que nesse cenário os BCs emergentes "arrastam os pés" para elevar os juros, quando têm razões para liderar esse processo. Identifica o principal movimento na Europa emergente, onde as taxas continuam a ser reduzidas. Como resultado, os juros reais de curto prazo estão negativos em vários emergentes, segundo o IIF.

A maioria dos bancos centrais tem usado outros instrumentos para endurecer a política monetária. China e Índia aumentaram o compulsório dos bancos. A Índia depois subiu juro. No Brasil também é esperado que a taxa básica de juros, este mês, seja elevada em 50 pontos-base.

A relutância para subir os juros é especialmente "evidente" na Ásia. Afora Índia, apenas a Malásia aumentou o custo do dinheiro. Mas Indonésia, Coreia do Sul e Filipinas mantêm as taxas nominais em níveis historicamente baixos, mesmo com a inflação subindo e o crédito e a economia mantendo-se fortes.

Em sua análise de conjuntura, pela primeira vez nos últimos tempos o IIF melhorou suas projeções de crescimento econômico para este ano. A principal razão é a alta da demanda nos EUA e Japão. Julga que o ciclo de renda - empregos, salários, consumo, empregos - começou a se restabelecer. Os bancos continuam positivos em relação à maioria das economias emergentes, mas ainda veem fragilidades na maior parte da Europa.