Título: Irã estará na pauta de reunião em Washington
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2010, Internacional, p. A9

O presidente Obama reúne líderes de mais de 40 países hoje e amanhã em Washington, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para fechar um acordo internacional de segurança nuclear. O encontro é parte de uma agenda positiva lançada pelos americanos nos últimos dias para tentar angariar maior apoio para impor sanções internacionais ao Irã.

O acordo que vai ser assinado amanhã não tem nada de controverso e, segundo fontes que acompanham as negociações, já está praticamente redigido. São basicamente ações de segurança, como a troca de informações entre países e a maior vigilância em locais críticos, para evitar que material nuclear caia nas mãos de grupos terroristas. Mas é uma maneira de o presidente Obama juntar numa foto chefes de Estado de várias partes do mundo e, com isso, mostrar que é capaz de formar consensos multilaterais sobre o espinhoso tema nuclear.

Na semana passada, Obama vendeu ao mundo outras duas notícias positivas na área. Uma foi a divulgação da nova doutrina americana para o uso de armas nucleares. Ela ficou bem aquém do que pediam os mais liberais, que achavam que os Estados Unidos deveriam declarar que não seria o primeiro a fazer um ataque nuclear.

Mas, para alguns analistas, representou um avanço, sobretudo quando diz que os Estados Unidos não vão usar ou ameaçar usar armas nucleares contra países que não têm armas nucleares, são signatários do tratado de não proliferação de armas militares e cumprem suas obrigações dentro desse acordo. Na doutrina anterior, desenhada pelo ex-presidente George W. Bush em 2002, os americanos admitiam usar armas nucleares se fossem atacados com armas químicas e biológicas, mesmo por países sem arsenal nuclear.

Outra iniciativa da agenda positiva de Obama foi um novo acordo de redução de arsenais nucleares assinado com a Rússia, também na semana passada, conhecido como "New Start", sigla em inglês que pode ser lida também como "novo começo". Há alguma controvérsia se, de fato, o novo tratado representa um avanço em relação ao anterior, da década de 1990, mas em geral a iniciativa foi vista de modo positivo.

Os EUA pretendem também pretendem aumentar a atuação como mediadores de conflitos regionais entre países que têm capacidade nuclear, o que é o caso de Índia e Paquistão.

O principal tema nuclear da agenda do presidente Obama, porém, é obter apoio do Conselho de Segurança da ONU para impor sanções ao Irã, que é suspeito de desenvolver um programa clandestino na área. A preocupação, em especial, é persuadir a Rússia e a China, que têm se mostrado reticentes a uma abordagem mais dura.

Pouco antes de posar para fotos durante a assinatura do "New Start", os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e da Rússia, Dmitri Medvedev, discutiram em termos específicos que tipos de sanções podem ser impostas ao Irã. A Rússia apoiou a ideia geral de impor um embargo ao Irã, mas advoga retaliações menos duras - que excluiriam, por exemplo, a suspensão de venda de gasolina e outros produtos refinados de petróleo. O presidente da China, Hu Jintao, confirmou sua presença na cúpula de segurança nuclear, e essa será uma nova oportunidade para o presidente Obama tentar extrair o apoio do país asiático ao embargo ao Irã.

O Brasil, que ocupa uma das cadeiras rotativas no conselho de segurança e tem resistido a apoiar sanções ao Irã, também deverá ser alvo de pressão da diplomacia americana hoje a amanhã. Até ontem à noite, porém, não havia sido marcado nenhum encontro entre o presidente Lula e o presidente Obama.

Mas os dois países têm uma agenda positiva para divulgar no encontro. O ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, assina hoje com seu colega americano, Robert Gates, um acordo de cooperação militar, o primeiro desde 1977.

É um documento bem genérico, sob o qual serão abrigados os entendimentos menores entre os dois países, como cooperação técnica e treinamento de militares. Mas representa uma distensão das relações entre os dois países depois de incidentes como o da instalação da base americana na Colômbia, em 2008, e, mais recentemente, nas operações de resgate após o terremoto que atingiu o Haiti.