Título: Emergente investe US$ 1,2 tri no exterior
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2010, Finanças, p. C3

As economias emergentes, encabeçadas pelo Bric - Brasil, Rússia, Índia e China -, deverão investir algo entre US$ 1 trilhão e US$ 1,2 trilhão no exterior neste e no próximo ano, no rastro de presença crescente na cena financeira global, de acordo com o Deutsche Bank.

Para se ter uma ideia do que isso significa, as aplicações dos emergentes em forma de acumulação de reservas, investimento direto e depósitos de seus residentes serão equivalentes ao que os Estados Unidos, a maior economia do planeta, investiram fora em 2005-2007.

Os quatro países do Bric representam a fatia maior do total de investimentos dos emergentes no exterior. E a capacidade da China em exercer influência nas finanças internacionais é cada vez maior, avaliam analistas.

Nesse cenário, a discussão de questões econômicas e financeiras pelos líderes do Bric, em Brasília, esta semana, será acompanhada atentamente pelos mercados. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberá seus colegas, o chinês Hu Jintao, o russo Dmitry Medved e o primeiro-ministro indiano Manmohan Singh, na segunda cúpula dos Bric.

No dia 23, os ministros de finanças dos quatro países vão se reunir em Washington para enfatizar a cobrança de reforma acelerada para o setor, mas também levando em conta um justo equilíbrio para não resultar em redução do fluxo de recursos para as economias em desenvolvimento. Na prática, nos últimos tempos, o grupo de emergentes, em geral, se torna cada vez mais exportador de capital para as economias desenvolvidas.

Até os anos 80, os emergentes sobretudo acolhiam entrada crescente de capitais, e poucos geravam montante significativo para exportação de capital. O dinheiro que saía das economias emergentes era basicamente na forma de "fuga de capital", causado por instabilidade econômica e política.

O Deutsche Bank nota que isso mudou de forma dramática, especialmente depois da crise financeira da Ásia em 1997. O fluxo de capital para fora dos emergentes quadruplicou entre 2000 e 2004 e entre 2005 e 2008, metade do qual foi em razão da acumulação de reservas.

De acordo com cálculos do instituto Internacional de Finanças (IIF), que reúne as grandes instituições internacionais, citados pelo banco alemão, a emergência das grandes economias em desenvolvimento como investidor internacional poderá resultar na saída de capital de até US$ 1,2 trilhão em 2011-2020.

Desse total, US$ 600 bilhões serão investimentos de reservas internacionais, portanto bem conversadoras. Outros US$ 310 bilhões são créditos líquidos de residentes dos emergentes. A soma se completa com outras aplicações de US$ 240 bilhões, dos quais quase tudo em forma de Investimento Direto Externo (IDE), que é a parte que cresce mais rapidamente. Entre 2005 e 2008, o Bric representou 60% do total dos investimentos dos emergentes no exterior. Representaram 70% através de reservas, 60% do fluxo de IDE, 45% de depósitos de residentes em bancos externos e apenas 12% de outras aplicações.

Sem surpresa, a diferença também é forte no grupo, já que somente a China representa um terço do fluxo externo total dos emergentes. Os ativos externos totais dos países do Bric alcançaram US$ 4,7 trilhões em 2008. Suas reservas atualmente excedem US$ 5 trilhões.

A China é um poder financeiro não apenas pelo enorme tamanho de seus ativos externos ou pela sua posição igualmente impressionante de credor externo líquido, nota o analista Markus Jaeger. Isso se reflete também na contínua exportação líquida de capital, controlada diretamente pelo governo.