Título: Sem garantia de Vice, Meirelles pede a Lula 24 horas para decidir se permanece no BC
Autor: Safatle , Claudia
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2010, Política, p. A7

É grande a probabilidade de Henrique Meirelles permanecer no cargo de presidente do Banco Central (BC) até o fim do governo. "Não se pode tomar uma decisão política a partir de possibilidades longínquas", desabafou Meirelles com um interlocutor, após mais de uma hora de conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem à tarde.

Foram dois encontros com Lula nos últimos dias para Meirelles tratar do seu futuro. O primeiro ocorreu na noite de sexta-feira. Ontem, o presidente lhe disse: "O ideal é que você fique, a não ser que você tenha vontade de seguir a carreira política".

Meirelles pediu 24 horas para decidir se permanece na presidência do Banco Central até o fim do ano ou se deixa a instituição para concorrer a uma vaga, por Goiás, no Senado Federal, ou postular a Vice Presidência na chapa de Dilma Rousseff, candidata do governo à sucessão presidencial. "Ser vice é uma possibilidade", acrescentou Lula, sem dar maiores garantias, até por que a escolha será negociada com o PMDB, que já indicou o nome de Michel Temer, presidente do partido e da Câmara dos Deputados. Quanto à candidatura ao Senado, o presidente disse que, se ele se candidatar, terá seu apoio.

Aos jornalistas, Meirelles alegou, depois do encontro com Lula, que o presidente lhe fez um pedido. "Para que eu fique no BC até o fim do mandato para completar o trabalho de estabilização da economia brasileira e, também, para assegurar que entregaremos ao próximo presidente uma economia estabilizada, crescendo, com inflação na meta e todas as condições para que o Brasil continue crescendo nos próximos anos", disse ele. Diante disso, prosseguiu, "eu pedi a ele 24 horas para pensar sobre esse pedido".

O diretor de Política Econômica, Mário Mesquita, deve sair mesmo diante da hipótese de Meirelles ficar no comando do banco. Hoje, ele cumpre seu último compromisso na instituição: a divulgação do relatório trimestral de inflação.

As primeiras explicações para a indecisão do presidente do BC foram atribuídas, por fontes do governo, à suposta intenção de Lula de substituí-lo no BC dois nomes que poderiam intranquilizar os mercados: o atual presidente do BNDES, Luciano Coutinho, ou o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. Ambas as possibilidades, porém, foram descartadas pelo Palácio do Planalto, sob o argumento de que, se Lula não ousou nos sete anos e três meses de mandato, não seria nos últimos nove meses que ele decidiria por uma inflexão na política econômica.

Lula, de fato, conversou com Coutinho há alguns meses sobre a presidência do BC. Dele ouviu que estava bastante confortável no posto de presidente do BNDES. Não justificaria trocar de cargo para cumprir um mandato-tampão e ainda ter que aumentar a taxa básica de juros (Selic). Aparentemente, o assunto morreu ali.

"O Meirelles não foi treinado para disputar essa incerteza. Ele está vivendo o mesmo drama do Patrus Ananias, de sair no escuro", comentou uma alta fonte do Palácio do Planalto. Até ontem ministro do Desenvolvimento Social, Patrus pediu demissão para tentar ser candidato ao governo de Minas Gerais, Estado onde o candidato de Lula é Hélio Costa, que ontem também deixou o Ministério das Comunicações.

Meirelles começou a se colocar como candidato, inicialmente ao governo de Goiás, ainda em 2008 - em fevereiro deste ano, anunciou a desistência desse plano e, no domingo, rejeitou nova oferta do prefeito de Goiânia, Iris Rezende. Foi ainda em 2008 que ele colocou a possibilidade de indicar para seu sucessor o diretor de Normas do BC, Alexandre Tombini.

Há seis meses, Meirelles filiou-se ao PMDB, mas deixou para anunciar oficialmente sua escolha no prazo final de desincompatibilização. Nesse período, tentou se viabilizar, estimulado pelo próprio Lula, como vice-presidente na chapa de Dilma, que deixa hoje o governo para preparar sua campanha. O PMDB, porém, não acolheu a ideia.

Restou-lhe ser candidato ao Senado por Goiás, o que nunca fez parte dos seus sonhos. Em conversas reservadas, Meirelles argumenta que não há, no Senado, um só representante que tenha hoje a projeção e a credibilidade do ex-presidente do BC Armínio Fraga.

Sem qualquer garantia de que pode realmente vir a ser escolhido para vice, sem vontade de ser nem a certeza de que será senador, Meirelles ficou no pior dos mundos. Pode permanecer no BC por falta de opção.