Título: PT corre o risco de ficar sem posto de comando no Orçamento
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2010, Política, p. A10

As bancadas do PMDB e do PT no Senado disputam a indicação do relator-geral do Orçamento que comandará a destinação dos recursos financeiros a serem aplicados no primeiro ano de mandato do próximo presidente da República.

O PT tenta tirar um nome de sua bancada de onze senadores mas encontra dificuldades por ter candidatos a governador, como Ideli Salvatti (SC), Aloizio Mercadante (SP) e Tião Viana (AC), e outros nomes que o Palácio do Planalto rejeita, como Eduardo Suplicy (SP) e Paulo Paim (RS).

O nome preferido seria Delcídio Amaral (MS), que já foi presidente da comissão. O fato de ser do Mato Grosso do Sul, entretanto, o impede, pois o presidente da Comissão Mista do Orçamento, já indicado pelo PMDB, é o deputado federal Waldemir Moka, seu conterrâneo e adversário na disputa pelo Senado no Estado. Assim, o que tem sido debatido agora é a possibilidade de que o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) ocupe o cargo. Considerado fiel ao governo, o Palácio do Planalto tem trabalhado pelo seu nome com a concordância da bancada, já que ele integra o bloco do Senado formado por PT, PCdoB, PR, PSB e PRB.

Ocorre que as dificuldades para chegar ao nome despertou no PMDB o desejo de participar do processo. Mas como Waldemir Moka já irá presidir a comissão, a articulação - capitaneada por Renan Calheiros (AL) - tem sido feita para Gim Argello (PTB-DF). Muito próximo á pré-candidata petista a presidente, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, as chances de ele acabar ocupando o cargo são grandes. Além da proximidade com Dilma, outro fator que o coloca como favorito é a possibilidade de que sua indicação leve o PTB para a aliança governista na campanha petista. Hoje, o PTB se divide entre apoiar o pré-candidato do PSDB, o governador paulista José Serra, e Dilma.

Por esse motivo, o governo considera a possibilidade de não impor restrições ao nome de Argello, embora saiba que possa ser uma "relatoria cara", conforme um interlocutor do Palácio do Planalto. Isso porque ele poderia ceder mais a interesses diversos do governo. Além disso, sendo integrante de um partido dividido entre governistas e oposicionistas, poderia facilitar o acesso aos recursos federais aos adversários dos petistas nos Estados. E, no caso de uma vitória de Serra, conceder aos interesses orçamentários do futuro governo.

Corretor de seguros, foi fundador do extinto PFL (atual DEM) no Distrito Federal, Argello tem uma carreira política meteórica. Foi eleito deputado distrital por Brasília em 1998 e, três anos depois, presidente da Câmara Distrital, sendo reeleito deputado em 2002. Filiou-se ao PTB em 2005, ano em que foi convidado pelo então governador do Distrito Federal Joaquim Roriz para ocupar a Secretaria de Trabalho. No ano seguinte, entrou como suplente de Roriz na disputa do governador ao Senado. Roriz venceu, mas se viu obrigado a renunciar seis meses depois por denúncias de corrupção, passando, então, a vaga a Argello. Logo ganhou a confiança de Renan e de José Sarney (PMDB-AP) e até chegou a indicar um assessor para a diretoria da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).