Título: Vaccari vai ao Senado e nega denúncias em tentativa de evitar convocação por CPI
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2010, Política, p. A10

Na primeira manifestação pública sobre seu suposto envolvimento em desvios de verba da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) para campanhas eleitorais do PT, o atual tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, negou todas as irregularidades atribuídas a ele pelo promotor José Carlos Blat e pelo corretor de câmbio Lúcio Bolonha Funaro. Coube ao advogado da Bancoop, Pedro Dallari, tentar desqualificar as denúncias e apontar "politização" do assunto.

Os depoimentos foram dados em reunião conjunta das comissões de Fiscalização e Controle e de Direitos Humanos do Senado. Estavam na condição de convidados, atendendo a requerimento aprovado pelos governistas. Foi uma tentativa de evitar que Vaccari seja obrigado a comparecer como convocado da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs, como quer a oposição. A convocação, já aprovada, o obrigaria a fazer juramento de dizer a verdade.

Vaccari contou com o apoio do presidente nacional do PT, o ex-senador José Eduardo Dutra, que, num procedimento pouco usual na Casa, esteve presente durante quase todo o depoimento. "Minha obrigação era vir, para mostrar que ele tem apoio e nossa confiança", disse Dutra. Para ele, a oposição quer levar Vaccari à CPI para transformá-la em "palanque político". Dutra acha que Vaccari foi convincente. "Para mim, o assunto está encerrado."

Senadores do PSDB, no entanto, discordam. Para os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Álvaro Dias (PSDB-PR), Vaccari não explicou nada e entrou em contradições, o que reforça a necessidade de ele falar à CPI. "É o fórum mais adequado", disse Arthur. Pressionado a aceitar uma acareação com Lúcio Funaro - que em depoimento ao Ministério Público o acusou de desviar recursos da Bancoop para o esquema do mensalão do PT -, o tesoureiro do PT disse que precisa "discutir com a direção partidária".

O advogado da cooperativa, sentado ao lado de Vaccari, afirmou que o promotor José Carlos Blat fez acusações contra o ex-presidente da Bancoop por meio da revista "Veja" para "oxigenar o inquérito criminal", ou seja, usar o fato jornalístico para reascender a investigação.

"Se o promotor, em 2008, achava que a Bancoop era uma organização criminosa, deveria ter tomado providências. Não o fez. Fez pela imprensa, em 2010. Fica evidente que usou a matéria para oxigenar o inquérito criminal", disse Dallari. Em entrevista, o advogado disse que o promotor "ou não estava convencido (das irregularidades) ou prevaricou".

Em inquérito sobre desvios da Bancoop, Blat afirma que Vaccari, quando cuidava das finanças da cooperativa, em 2003, cobrava propina para repassar recursos ao PT. A denúncia teria sido feita por Funaro, em depoimento ao Ministério Público após acordo de delação premiada.

Vaccari diz que "não houve superfaturamento na Bancoop nem contribuição a partido político". Com relação a supostas irregularidades nos empreendimentos da cooperativa, Vaccari disse ter dado ampla publicidade aos cooperados sobre o andamento das obras. Dallari, por sua vez, disse que a Justiça já tem decidido sobre contestações de cooperados, não apontou irregularidades nos valores cobrados pela cooperativa. Segundo o advogado, os cooperados recorreram à "politização" ao levar o assunto para o Senado e a Assembleia Legislativa de São Paulo.