Título: Inpe investe na área de fusão nuclear
Autor: Silveira ,Virgínia
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2010, Empresas, p. B2

As pesquisas brasileirasna área de fusão nuclear ganharão um novo impulso com a construção doLaboratório Nacional de Fusão Nuclear (LNF), dentro de uma área cedidaà Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), pelo Instituto Nacionalde Pesquisas Espaciais (Inpe), em Cachoeira Paulista (SP). Para o novolaboratório, também será transferido o atual grupo de pesquisa do Inpe,que trabalha com o Experimento Tokamak Esférico (ETE), uma máquina depesquisa em fusão nuclear controlada, que segue o conceito desenvolvidona Rússia de confinamento magnético de plasma.

Emoperação há dez anos, o tokamak do Inpe, utilizado nas pesquisas dafísica de plasmas de altas temperaturas para fusão, também serátransferido para o LNF, que será criado oficialmente até meados desteano, segundo informou o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da CNEN,Marcos Nogueira Martins. "O orçamento do Inpe na área de fusãotermonuclear já foi transferido para a CNEN e um dos projetos queestamos trabalhando é o da modernização do tokamak", disse.

Oprojeto, de acordo com Martins, receberá uma verba de R$ 1 milhão paramelhorias na instrumentação de monitoração do equipamento e também dobanco de capacitores (baterias), para que a descarga elétrica do plasmaseja mais eficiente e duradoura. O Laboratório Associado de Plasma(LAP) do Inpe foi um dos primeiros a desenvolver um tokamak esférico nomundo.

A construção donovo laboratório, de acordo com o coordenador das atividades de fusãodo Inpe, Gerson Otto Ludwig, será feita com recursos da Financiadora deEstudos e Projetos (Finep), que aprovou uma verba de R$ 1 milhão para oprojeto de engenharia e terraplenagem. "A previsão é que o laboratórioentre em funcionamento em dois ou três anos, mas suas atividades serãoiniciadas antes em uma sede provisória no Inpe", segundo o pesquisador.

Ocusto total de construção do novo laboratório, segundo o diretor daCNEN, foi estimado em R$ 10 milhões, mas o valor não inclui a aquisiçãode equipamentos. "Além do tokamak do Inpe, também temos a intenção dedesenvolver uma outra máquina, mais moderna do ponto de vista depesquisa, mas ainda não decidimos se ela será um tokamak ou outro tipode dispositivo para a obtenção de fusão termonuclear", disse Martins.

SegundoLudwig, do Inpe, o tokamak é hoje uma das alternativas que representammenor impacto sobre o ambiente para a produção de energia em grandeescala e a mais interessante para a consecução de reatores compactos defusão, pois não utilizam urânio enriquecido como combustível. A fontede energia dos reatores a fusão são os elementos deutério e trítio,retirados da água do mar.

Acriação do novo Laboratório de Fusão Nuclear, segundo o diretor daCNEN, permitirá ainda que o Brasil crie uma massa crítica nessa área,uma vez que os atuais grupos de pesquisa estão pulverizados eespalhados em diversas instituições e universidades do país "Além dosservidores do Inpe, o LNF também vai abrigar os pesquisadores de outrasinstituições e os novos profissionais que serão contratados por meio deconcurso público."

Comuma estrutura mais organizada, segundo Martins, o Brasil poderá secapacitar de maneira mais coerente e ágil e participar de projetosinternacionais do porte do International Thermonuclear ExperimentalReactor (Iter, na sigla em inglês), o maior tokamak do mundo, que estásendo construído por meio de uma cooperação internacional envolvendovários países. "O Brasil e a Comunidade Europeia de Energia Atômica(Euratom) firmaram, em novembro de 2009, um convênio para quepesquisadores brasileiros possam ter algum tipo de colaboração no Iterou em outros tokamaks, como o Jet, da Inglaterra", disse Edson DelBosco, membro do Comitê Técnico-Científico da Rede Nacional de Fusão.

Doponto de vista europeu, segundo Del Bosco, o acordo já está em vigor,mas no Brasil ainda é necessário que o convênio seja ratificado peloCongresso Nacional para que ele tenha força de lei. O acordo prevê, deforma geral, uma cooperação técnico-científica do Brasil com a Euratomna área de fusão nuclear.

Ocoordenador das atividades de Fusão do Inpe, Gerson Ludwig, disse que onovo Laboratório da CNEN também poderá abrigar experimentos e pesquisasinovadoras na área de fusão nuclear. "Um dos projetos que estoutrabalhando, por exemplo, é o de um reator de fusão para a geração deradioisótopos, como o molibidênio 99, usado em medicina nuclear (examesde diagnóstico de câncer e outras doenças) e atualmente em falta nomercado mundial.