Título: G-20 tem pressa em definir regras
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2010, Finanças, p. C16

Fortes regras internacionais sobre capital e liquidez dos bancos, para cobrir os riscos que eles tomam, precisam ser desenvolvidas até o fim do ano e implementadas até o fim de 2012, dizem líderes do G-20, o grupo das potências ricas e emergentes que se torna o diretório econômico do planeta.

A incipiente recuperação da economia mundial continua frágil. As atuais tensões ilustram os riscos que persistem para a economia global e a estabilidade financeira. E tudo isso requer uma coordenação de política econômica do G-20 para evitar outra crise.

Essa mensagem é dos presidentes dos EUA, Barack Obama, da França, Nicolas Sarkozy, e da Coreia do Sul, Lee Myung-bak, e dos primeiros-ministros do Canadá, Stephen Harper, e britânico, Gordon Brown, todos de países que já sediaram ou vão sediar encontros de cúpula do G-20, em carta a seus outros colegas do grupo, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Eles enfatizam que a tarefa para tirar a economia mundial do buraco "não está completa" e reiteram a "necessidade de implementar nossos compromissos de coordenar nossas políticas macroeconômicas", ou seja, avançar em reformas nas cúpulas de junho no Canadá e de novembro na Coreia do Sul.

Na carta, os cinco líderes dizem que os centros financeiros precisam adotar até o fim de 2011 o Acordo de Basileia II, reforçar a infraestrutura dos principais mercados e reduzir os riscos de contágio.

"Embora a confiança no sistema financeiro tenha melhorado, mais trabalho é necessário para restaurar a robustez de balanços de alguns bancos globais, para evitar deixar o sistema financeiro internacional vulnerável e restringir sua capacidade de fornecer o crédito necessário para alimentar o crescimento econômico sustentável", diz a carta, que circulava ontem entre os principais assessores do presidente Lula.

Uma das decisões aprovadas na cúpula de Pittisburgh (EUA), no fim do ano passado, foi sobre um freio nos bônus extravagantes pagos a executivos dos bancos. Na carta, os cinco líderes insistem em resolver o problema dessas práticas que encorajam a tomada de risco excessivo.

Além disso, defendem a avaliação do que os países estão fazendo para implementar mudanças em seus sistemas financeiros. Ao mesmo tempo, ontem em Basileia, o Fórum de Estabilidade Financeira, que surge como o xerife das finanças internacionais, anunciou que os primeiros submetidos a exame serão a Itália, México e Espanha.

O Brasil, que teve seu sistema financeiro avaliado pelo FMI em 2003, vai esperar um pouco mais. O fórum vai esperar que o FMI faça novo exame da situação brasileira, e só mais tarde realizar sua própria avaliação.

Negociadores ouvidos pelo Valor destacaram que, no G-20, a expectativa é de poucas decisões em junho no Canadá. Em termos de coordenação macroeconômica, o máximo que acontecerá é apresentação dos principais atos adotados por cada país. Outra decisão deve ser sobre que tipo específico de subsídio a combustíveis deve ser eliminado, para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Os emergentes continuam pressionando para que o FMI modifique seu sistema de distribuição de cotas, refletindo o poder dentro da entidade. Também querem que o fundo aumente em US$ 250 bilhões as emissões de Direitos Especiais de Saque (DES), com capacidade de fornecer crédito adicional para os países em desenvolvimento sem as condicionalidades tradicionais.

Entre o discurso e a prática também há um bom caminho. A ideia no G-20 é de impor um acordo multilateral para os paraísos fiscais se comprometerem em fornecer informações sobre os clientes de seus bancos, para quebrar o fluxo de evasão fiscal. Mas a Grã-Bretanha, antes incisiva sobre a medida, está recuando.

Também não há consenso sobre uma taxa global sobre os bancos para a criação de um fundo de estabilização, a fim de cobrir eventuais falências bancárias. O mais provável é que decisões sejam tomadas em novembro na Coreia do Sul.

Enquanto isso, nesta quarta-feira técnicos do G-20 se reúnem em Pequim para continuar discutindo a reforma financeira global.