Título: País vivia seu 2º maior ciclo de crescimento
Autor: Lamucci , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 12/03/2010, Brasil, p. A3

A queda observada na variação do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009, de 0,2%, interrompeu o segundo maior ciclo de crescimento econômico brasileiro em mais de cem anos. Foram 16 anos de altas ininterruptas desde o baque de 1992, quando o PIB tombou 0,5%. Pouco antes, em 1990, o país registrara a mais grave recessão em todo o século XX - queda de 4,3%.

Ao contrário dos resultados negativos do começo dos anos 90, quando condições internas explicavam os tombos no PIB - como os efeitos do Plano Collor, em 1990, e a crise do impeachment presidencial, em 1992 - o resultado de 2009 pode ser entendido como uma interiorização das turbulências mundiais eclodidas no fim de 2008, quando os países ricos, Estados Unidos à frente, ingressaram na mais forte crise econômica em quase 30 anos.

O que ocorreu em 2009 pode ser comparado à crise do período 1981-1983. Na época, o choque conhecido como "crise da dívida externa" causou mergulhos no PIB de praticamente todos os países da América Latina, com consequências políticas, inclusive - os regimes ditatoriais da Bolívia e Argentina terminaram em 1982 e 1983, respectivamente, e, em 1985, o brasileiro se esgotou também.

As turbulências econômicas do início dos anos 80 culminaram no fim do maior ciclo de crescimento ininterrupto dos últimos 110 anos, quando o país registrou um crescimento médio de 7,3% ao ano entre 1943 e 1980. No período, o Brasil passou do crescimento pós-depreciação do comércio mundial graças à Segunda Guerra Mundial (1939-1945) ao desenvolvimento induzido pelo Estado, na segunda metade da década de 70, passando pelos anos de Juscelino Kubitschek e do "milagre econômico" - quando o PIB atingiu sua maior variação: 14,1%, em 1973.

No início dos anos 80, no entanto, o Brasil sofreu as consequências do ajuste promovido pelos Estados Unidos para combater a inflação alta. As altas taxas de juros americanas, que passaram de 8,7%, em 1978, para 17% em 1981, corrigiram as dívidas tomadas pelo governo brasileiro durante os anos 70 - especialmente no período pós-choque do petróleo de 1973. O PIB caiu 4,2% em 1981 e outros 3% em 1983, e o país ingressou num período marcado por hiperinflação - que chegou a 2.477% em 1993 -, moratórias da dívida externa e seis planos econômicos.

Em 1993, no governo interino de Itamar Franco, começou a ser colocado em prática o sétimo plano de combate à hiperinflação em oito anos. A nova moeda, instituída em julho de 1994, alterou a rota do aumento de preços, que passaram a oscilar na casa de um dígito ao ano. A partir do Plano Real, o país passou a crescer ano a ano pelos 16 anos que se seguiram. Até 2009, quando a crise externa afetou o ciclo de investimentos que estava em curso e derrubou o PIB.