Título: No setor da construção, a retomada começou mais cedo
Autor: Lamucci , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 12/03/2010, Brasil, p. A3

Em janeiro de 2009, as perspectivas eram de que o ano seria de "manutenção de rota". O empresário Alexandre Baumgart, diretor-comercial e técnico da Vedacit/Otto Baumgart, fabricante de materiais de construção, apostava que o ano se sustentaria apenas pelos empreendimentos imobiliários lançados entre 2007 e 2008. Para dar conta do que já estava contratado, a Vedacit não precisaria ampliar investimentos, nem cortar pessoal, e ainda garantiria uma alta de 10% no faturamento, apesar da crise. Nos planos, o "boom" da construção civil nos anos anteriores permitiria à empresa passar quase ilesa pela recessão que se desenhava.

O temor de que 2009 fosse o começo de uma crise mais duradoura, contudo, existia. "A construção civil não funciona como a indústria, que pode parar imediatamente a produção, cortar pessoal e sustar investimentos. Tínhamos projetos para tocar, e ao mesmo tempo havia o medo de que as coisas durassem além de um ano."

Mesmo com a dúvida, a decisão inicial foi manter os funcionários e esperar. E a espera não foi muito longa. Já no começo do segundo trimestre, começaram os sinais de reaquecimento da economia.

A Vedacit, que esperava encerrar 2009 com 10% de crescimento, faturou 13,5% mais, puxada pelo mercado interno. O faturamento no ano passado atingiu R$ 290 milhões e os investimentos inicialmente projetados, de R$ 3 milhões em aumento de produção das unidades de São Paulo e Salvador, foram colocados em prática.

"No começo de 2009 havia muita fofoca e muito desconhecimento sobre o que poderia acontecer. Parecia briga de criança, em que um fica empurrando o outro até que alguém finalmente caia no chão", diz Baumgart. Hoje a companhia projeta elevação de até 16% no faturamento para 2010, com investimentos de R$ 12,5 milhões nas duas plantas - o que, segundo Baumgart, deve ampliar a capacidade produtiva em 30%.

Ciclo semelhante foi sentido pela RFM Engenharia. "Na hora que o setor ia começar a cortar vagas, o governo baixou diferentes medidas de estímulo à toda a cadeia e também ao consumidor", diz o diretor Eduardo Zaidan.

Zaidan, tal como Baumgart, imaginava que 2009 seria reservado "para tocar aquilo que nós já tínhamos lançado em 2008". Eram oito torres, espalhadas por São Paulo, que já estavam contratadas e teriam suas obras mantidas. O quadro de 600 funcionários foi mantido, sem planos de novas contratações.

Para equilibrar os efeitos negativos da crise mundial, o governo reduziu impostos de alguns materiais de construção, incentivou empréstimos para a compra de imóveis e lançou o programa Minha Casa, Minha Vida com a meta de construir 1 milhão de casas até dezembro de 2010.

Até março, diz Zaidan, da RFM, "ninguém lançou nenhum empreendimento e os investimentos estavam adiados". A empresa lançou um prédio em abril, na Zona Sul. Quando aquele empreendimento foi inaugurado, em novembro, a situação era outra. "O prédio foi um sucesso e, naquela fase, todo mundo já estava otimista de novo com a economia", diz Zaidan. (JV)