Título: Reconstrução vai aproximar Chile do Brasil
Autor: Uchoa , Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 12/03/2010, Especial, p. A16

Sebastián Piñera, 60, tomou posse na Presidência do Chile de um modo que definitivamente não esperava: eleito com um discurso de contenção de gastos, vai ter de gastar muito com a reconstrução após o terremoto de 27 de fevereiro e deve terminar o primeiro ano com déficit fiscal; e o presidente que tinha em vista aprofundar as já boas relações comerciais com a Ásia e os EUA deve mesmo é se ver envolvido cada vez mais com empresas e interesses brasileiros.

Essa avaliação foi feita por uma série de analistas e empresários ouvidos pelo Valor: empresas brasileiras estão bem posicionadas para participar da reconstrução do país, o que deve ter um efeito aproximador na relação entre os dois países, queira ou não Piñera.

O Ministério de Obras Públicas do Chile avalia que a reconstrução da infraestrutura afetada pelo terremoto custará aos cofres públicos US$ 1,2 bilhão. São ao menos 100 km de estradas a serem recuperadas; 40 pontes (sendo que 20 terão de ser demolidas e reconstruídas totalmente); e obras de saneamento e distribuicao de água em todo o país. Esse cálculo não inclui a reparação de prédios públicos e grandes portos comerciais. Para a consultoria chilena Mafo, no total, as obras chegariam a US$ 12 bilhoes.

"Várias empresas brasileiras já estão bem situadas no mercado no Chile. A construtora OAS participa do saneamento do rio Mapocho [que corta a capital chilena]; a Camargo Corrêa associou-se a uma empresa chilena para administrar e construir aeroportos; a Odebrecht Chile atua há tempos no país e tem procurado contratos no setor hidrelétrico. Como o governo brasileiro deve financiar, via BNDES, uma série de obras, essas empresas estão em posição privilegiada para participar da reconstrução", disse um diplomata brasileiro que pediu para não ser identificado.

Algumas empresas já esperam aumento imediato da atividade por causa da reconstrução.

"A desgraça imensa gera um país que tem de se reconstruir", disse Hermann von Mühlenbrock, gerente-geral da siderúrgica Gerdau Aza, filial chilena da brasileira Gerdau. Para ele, a reconstrução vai adicionar de 1,5 a 2 pontos no crescimento do PIB do país. Apesar de achar prematuro afirmar quanto a produção de sua empresa aumentará, ele é categórico: "Vai subir. Todos temos a sensação de que haverá uma atividade muito alta".

As instalações da Gerdau Aza foram pouco afetadas pelo tremor.

Na outra mão, empresas chilenas com grandes investimentos no Brasil já mostraram que querem fortalecer sua posição no país.

A CMPC anunciou que usará a produção de papel e celulose de sua planta em Guaíba, comprada da Aracruz, para dar conta dos compromissos já firmados. ParaWilliam Baeza, analista da Euroamerica, a operação no Brasil ajudará a CMPC a não ter resultados tão ruins no primeiro trimestre do ano, apesar dos extensos danos nas fábricas no Chile. A CMPC não retomará a produção no centro-sul do Chile antes de abril.

"O Chile vai continuar voltado para o comércio com EUA e China. Afinal, para lá vão os seus principais produtos de exportação. Mas a presença brasileira tem uma grande oportunidade de se consolidar. E isso servirá para mudar as relações entre brasileiros e chilenos", disse o diplomata brasileiro.