Título: Atrás dos maiores juros do planeta
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 25/06/2010, Economia, p. 16

Cresce a parcela de estrangeiros comprando dívida brasileira. Em busca de remuneração, eles podem deixar o país a qualquer momento

Os juros reais praticados no mercado brasileiro, um dos mais altos do mundo, e o jogo de cintura do governo no decorrer da crise internacional continuam atraindo capital de outros países para o Brasil. Os investidores estrangeiros estão de olho nos títulos públicos nacionais e aumentaram de 8,63% para 8,95% sua participação no total da dívida mobiliária interna. Em maio, a fatia de investidores de outros países na dívida brasileira bateu recorde histórico e somou R$ 133,4 bilhões. O quadro reforça a dependência do país a esse tipo de aplicação, que atualmente contribui para tapar parte do rombo nas contas externas, mas pode escapar rapidamente caso o cenário internacional fique mais conturbado.

De acordo com o coordenador da dívida pública do Tesouro Nacional, Fernando Garrido, a boa impressão passada pelos fundamentos da economia nacional é o fator que mais atrai o investidor estrangeiro, que, ao comprar os títulos públicos ¿ em sua maioria com prazos mais longos ¿, aposta na estabilidade e em uma aplicação considerada mais segura. ¿Em relação a alguns papéis europeus, por exemplo, os títulos brasileiros têm ficado (com preços) mais estáveis nos últimos meses¿, considerou.

Apesar de admitir que os juros reais pagos por aqui abrem ainda mais o apetite do investidor, o Tesouro Nacional defende que a perspectiva de ganhos altos não é suficiente para segurar os dólares em momentos de grande turbulência no mercado internacional. ¿Alguns indicativos de solidez econômica também são necessários¿, disse.

De acordo com o Tesouro, os estrangeiros também vêm em busca de papéis de menor prazo, mas a preferência continua sendo por títulos prefixados mais longos. ¿Se essa for a maior parte, o governo tem tudo a celebrar, pois é um financiamento genuíno¿, avaliou o ex-diretor da Área Externa do Banco Central, Carlos Eduardo de Freitas. Para ele, a detenção de títulos brasileiros por estrangeiros só pode se tornar indesejável se for expressa em um grande volume de títulos atrelados à taxa Selic ou à variação cambial.

Investidores flexíveis Segundo o Tesouro Nacional, alguns fundos de investimento estrangeiros já estão afrouxando suas regras para poderem aplicar no Brasil. O coordenador-geral de planejamento estratégico da dívida pública, Otávio de Medeiros, afirmou que recentemente a instituição identificou a compra de papéis brasileiros por um fundo soberano internacional que, inicialmente, exigia que o país tivesse duas notas de classificação acima do grau de investimento brasileiro.

Para Freitas, a decisão desses fundos pode estar refletindo uma espécie de antecipação por parte dos gestores, de que o Brasil pode ter sua nota elevada em alguns anos. ¿Fora que no Brasil temos, por exemplo, a agroindústria, que é um setor que deve crescer durante vários anos¿, considerou. ¿A situação dos Estados Unidos não é boa e a China é uma caixa preta no que diz respeito à economia. O que sobra é o mercado europeu, onde as perspectivas econômicas também não são as melhores¿, ponderou.