Título: Analistas veem PIB de 6% como piso
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2010, Brasil, p. A5

Uma elevação de 6% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano é "piso". Com a alta esperada de 2% no primeiro trimestre sobre os últimos três meses do ano passado, será preciso diminuir sensivelmente o ritmo - para algo próximo a 1% por trimestre, até o fim do ano - para, ainda assim, registrar crescimento entre 6% e 6,5% no PIB. A avaliação é consensual não entre economistas do governo, mas entre analistas do mercado financeiro. Para Ilan Goldfajn, Alexandre Schwartsman, Eduardo Loyo e Luiz Fernando Figueiredo, todos ex-diretores do Banco Central, hoje quadros proeminentes de bancos privados e de gestoras de recursos, o país está crescendo "com força", desencadeando um processo inflacionário ancorado na ampliação da demanda e, por isso, necessita de um "ajuste firme". Segundo eles, o Banco Central será o protagonista do processo de controle, visto que o governo mantém ou até amplia os estímulos fiscais e o crédito por meio dos bancos públicos e de fomento.

Reunidos em seminário promovido pela Emerging Markets Traders Association (EMTA), no Itaú Cultural, em São Paulo, os economistas foram unânimes em defender elevações nas taxas de juros, hoje em 8,75% ao ano, como forma de conter um crescimento da atividade "muito acima do potencial". Segundo cálculos do economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central e também presente ao evento, mantidos os atuais ritmos de absorção da mão de obra e aumento dos investimentos, o PIB potencial brasileiro seria próximo a 4,5%. Isto quer dizer que a economia pode crescer até 4,5% sem gerar pressões inflacionárias.

"O ritmo atual de crescimento trimestral é de 2%. Ainda que caia para cerca de 1,1% nos próximos três trimestres, fecharemos 2010 com uma elevação de 6,5% no PIB", avalia Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. Para ele, no entanto, "não há nenhum sinal de que haverá desaceleração".

Pelo contrário, acredita Schwartsman, economista-chefe do Santander. De acordo com o economista, os sinais dados pelos índices de preços, no primeiro trimestre do ano, são de que "a demanda doméstica está pressionando a inflação". Nos primeiros três meses do ano, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou 2,06%, quase metade da meta de 4,5% perseguida pelo BC até o fim do ano. "O peso para conter essa demanda forte recairá sobre o BC", avalia Schwartsman.

Segundo os economistas, o BC deve começar a elevar a Selic já neste mês, na reunião que ocorre no dia 27. A avaliação é de que o processo deveria ter sido iniciado antes disso. Até o fim de 2010, avaliam, a Selic deve saltar dos 8,75% atuais para algo entre 11,75% e 12% ao ano.

O economista da Mauá Investimentos, Luiz Fernando Figueiredo, não vê riscos eleitorais afetando a ação do Banco Central. Segundo ele, "as válvulas que o governo encontrou no ano passado para capitalizar bancos públicos, como o BNDES, trazem mais incertezas que a atuação do BC neste e nos próximos anos". O economista aposta que a atuação do BC, no ano, será balizada pelo controle da inflação e, por isso, "não terá problemas em elevar os juros".

A elevação dos juros deve ampliar a entrada de capitais, que, ao mesmo tempo em que financiam o crescente déficit das transações correntes - segundo analistas, deve passar de 1,2% do PIB em 2009 para cerca de 2,5% do PIB neste ano - também pressionam a valorização do câmbio. Assim, bancos e consultorias trabalhavam, desde o início do ano, com uma diminuição do saldo comercial em 2010, frente aos cerca de US$ 25 bilhões registrados em 2008 e 2009.

O reajuste de preços do minério de ferro, anunciado pela Vale, BHP Billiton e Rio Tinto, de cerca de 90%, pode alterar essa rota, segundo economistas. Pastore lembra que somente o aumento promovido pela Vale deve significar US$ 10 bilhões a mais no saldo comercial. Ele vê o risco de uma entrada forte de recursos, com apreciação do real.