Título: Gabeira e Garotinho miram desgaste eleitoral de Cabral
Autor: Moura , Paola
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2010, Política, p. A6

A pouco mais de seis meses das eleições, a tragédia no Estado do Rio, que já registra quase 250 mortes, pode abalar a liderança que o governador Sérgio Cabral (PMDB) tem nas pesquisas eleitorais. Adversários políticos, o deputado Fernando Gabeira (PV) e o ex-governador Anthony Garotinho, já utilizam as ferramentas da internet para apontar erros que Cabral teria cometido no socorro as vítimas e no atendimento à população.

No domingo, ao visitar o Morro do Bumba, em Niterói, onde a comunidade foi construída sobre um lixão de até agora já foram retirados mais de 40 corpos, o governador ouviu vaias de moradores. Irritado, atribuiu a manifestação a "políticos de quinta categoria" e encerrou a entrevista que dava a repórteres no local. Cabral também tem sido bastante criticado por ter chamado moradores de favelas de irresponsáveis e suicidas por morarem em áreas de risco.

Gabeira pretende utilizar estes erros na campanha eleitoral. "Há muitos anos, falo da questão do aquecimento global. Não faz sentido passar a vida toda discutindo o ambiente e não tocar no assunto na campanha", afirma Gabeira. "O governador desestruturou a Defesa Civil, não tinha qualquer plano de emergência", ataca. "Durante o furacão em Santa Catarina, estive na Defesa Civil de lá e vi como funciona uma sala de situação. Não dá para uma cidade como o Rio deixar de ter um serviço como este".

No início de seu governo, em 2007, Cabral extinguiu a Secretaria Estadual de Defesa Civil e fez dela um braço da Secretaria de Saúde. Alguns funcionários de seus quadros passaram então a trabalhar nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), uma das meninas dos olhos do governador. Isso porque o péssimo atendimento da saúde pública no Rio era uma das principais reclamações da população, junto com a violência.

Garotinho concorda com Gabeira e também critica a falta de estrutura da Defesa Civil. O ex-governador aproveita para cutucar mais lembrando que o governo também tinha contratado a Fundação Cobra Coral para evitar chuvas na cidade, depois da tragédia da virada do ano em Angra dos Reis.

Garotinho afirma, no entanto, que não será necessário utilizar as imagens da tragédia na propaganda eleitoral gratuita na televisão. "Os fatos já são contra o governador, não preciso explorá-los mais", afirma. Questionado se não fará isto porque seu governo também registrou tragédias, Garotinho diz que elas existiram, mas que ele agiu e foi mais atuante que Cabral, sem querer dar mais detalhes. Em dezembro de 2001, um temporal na véspera do Natal matou quase 200 pessoas em Petrópolis, cidade serrana do Estado, e deixou vários municípios da Baixada Fluminense debaixo d´água.

Apesar de dizer que não é necessário atacar o governador, diariamente Garotinho faz comentários sobre a atuação de Cabral em seu blog. Ontem, ele criticou a visita do governador ao terreno onde ficava o presídio da Frei Caneca, onde serão construídos 1,5 mil moradias populares para abrigar a moradores da área de risco, chamando-a de marqueteira.

Analista político do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Renato Lessa não acredita que os deslizamentos e as mortes serão muito explorados quando a campanha de TV começar. Isto porque, segundo ele, todos os políticos têm uma história de tragédia nos seus currículos ou na sua coligação. "Não será diferente com Garotinho ou Cesar Maia", afirma o analista. "A convivência do poder público com a população que vive nestas áreas é um padrão de todos os governos". Para Lessa, a falta de política de moradia para os pobres é uma falha social das sucessivas gestões públicas que nunca foi corrigida.