Título: Com a ajuda de estrangeiros, preços das terras continuam em alta no país
Autor: Lopes , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2010, Agronegócios, p. B11

O mercado brasileiro de terras agrícolas permanece aquecido. Levantamento da AgraFNP mostra que, no período de 12 meses encerrado no bimestre março-abril, a valorização média nominal nacional foi de 4,7% - ou de 3,9%, se descontada a inflação do período -, o que elevou a alta média nos últimos 36 meses para 34%, que em termos reais significou, segundo a consultoria, um ganho anualizado de 5,1%.

"A liquidez está mais forte nas fronteiras agrícolas do "Mapito"", afirmou Jacqueline Bierhals, analista do mercado de terras da AgraFNP. O "Mapito" em questão envolve as regiões de cerrado dos Estados de Maranhão, Piauí e Tocantins, e por lá, conforme a especialista, o apetite dos investidores segue aberto.

Ainda que para a produção de grãos a conjuntura seja de margens mais apertadas por conta da continuada queda de preços nos últimos meses, o que "segura" um pouco as negociações de terras, há na região outros investimentos, como por exemplo para o plantio de eucalipto. "Como o eucalipto é pouco exigente, neste caso terras mais baratas também interessam", disse Jacqueline. Outro segmento que já apresenta sinais de reaquecimento também neste mercado é o sucroalcooleiro, que acaba de viver outra onda de consolidações e sinaliza a retomada de investimentos agrícolas e industriais.

De acordo com Jacqueline, além dos aspectos conjunturais há mudanças estruturais já visíveis no mercado de terras. O "público comprador" espelha bem essas mudanças. Hoje, segundo ela, há muito menos negócios "picados" entre agricultores e mais negócios grandes, com participações de fundos de investimentos ou grandes empresas, com destaque para as multinacionais.

É um universo que envolve desde grupos conhecidos e presença tradicional no país , como Bunge e Louis Dreyfus, até tradings asiáticas que aparecem como novidades no mercado. "E isso deve continuar. No longo prazo, são positivas as perspectivas para o mercado", afirmou ela.

As questões ambientais continuam a influenciar o mercado de terras, como já explicou Jacqueline na divulgação do levantamento bimestral anterior, em fevereiro. Enquanto propriedades com reservas legais de acordo com a lei continuam valorizadas, fazendas em territórios ambientalmente complicados começam a perder valor. Conforme Jacqueline, isso já pode ser observado em áreas de pastagens do Pará, por exemplo.