Título: Para o Banco Mundial, não há mais 'Terceiro Mundo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 15/04/2010, Internacional, p. A13

O antigo conceito de "Terceiro Mundo" já não se aplica atualmente e os países ricos não podem mais impor sua vontade às nações em desenvolvimento, que são agora os principais motores do crescimento mundial, disse o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick.

Em um discurso feito ontem, que serviu como uma espécie de preparação para as reuniões do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, na próxima semana, Zoellick advertiu contra o uso de velhos padrões, que refletem apenas interesses próprios. Ele se referia ao termo hoje pejorativo de Terceiro Mundo, já que esses países emergentes tendem a desempenhar um papel cada vez maior nas duas instituições surgidas dos Acordos de Bretton Woods (1944).

Ele disse que o progresso econômico nos países em desenvolvimento teve profundas implicações para a cooperação global, multilateralismo e para o trabalho de instituições como o Banco Mundial. "As placas tectônicas econômicas e políticas estão se movendo", afirmou Zoellick em discurso no Woodrow Wilson Center. "Nós podemos mudar com elas ou podemos continuar a ver o novo mundo pelo prisma do velho. Devemos reconhecer novas realidades. E agir sobre elas."

O termo Terceiro Mundo foi oficialmente adotado pela primeira vez durante a reunião de países asiáticos e africanos, em abril de 1955, na Conferência de Bandung, em Java, na Indonésia. Ele definia os países que se pretendiam não-alinhados às duas superpotências da época: EUA e URSS.

A origem do nome está na ideia do demógrafo francês Alfred Sauvy, que propunha a ideia de um Terceiro Mundo, inspirado na ideia do Terceiro Estado, usada na revolução francesa. Os países do chamado Terceiro Mundo deveriam se unir e revolucionar a Terra, como fizeram os burgueses e revolucionários na França. Os chamados Primeiro Mundo e Segundo Mundo surgiram de uma interpretação errônea por parte principalmente da mídia. Assim, convencionou-se que o Primeiro Mundo seria o dos países capitalistas desenvolvidos, enquanto o Segundo Mundo seria o dos países socialistas industrializados. Restariam no Terceiro Mundo os países capitalistas economicamente subdesenvolvidos e geopoliticamente não-alinhados.

Espera-se que nas reuniões da próxima semana seja aprovado o o primeiro aumento de capital para o Banco Mundial em 20 anos. Os países ricos industriais têm sido os maiores contribuidores para o Bird e ditado a forma como esses fundos são gastos. Espera-se agora que os países emergentes tenham um papel maior.

Zoellick disse temer que o incentivo à cooperação entre países vá desaparecer com a recuperação da economia global e a rápida evolução de uma economia mundial multipolar, em que alguns países em desenvolvimento estão se tornando potências econômicas.

As mudanças no mundo não estão apenas na China e na Índia, disse ele. A África Subsaariana poderia crescer a uma média de mais de 6% até 2015, enquanto o Sul da Ásia, onde vive a metade dos pobres do mundo, pode crescer até 7% ao ano no mesmo período. "Estamos agora em uma nova economia mundial, em rápida mutação multipolar, onde o norte, o sul, o leste e o oeste são agora os pontos de uma bússola, não destinos econômicos", disse Zoellick.

Mas com a maior influência global vem acrescentada a responsabilidade, observou ele, advertindo os países em desenvolvimento que querem maior participação nas instituições internacionais.

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou reformas nos organismos multilaterais e disse que o Brasil não se tornou credor do FMI e do Bird para não haver modificações em seus procedimentos.

"É preciso que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional abandonem seus dogmas obsoletos e condicionalidades nefastas. O Brasil não se tornou credor desses organismos para que as coisas continuassem como antes", disse o presidente.

"Exigimos reformas profundas para que os países em desenvolvimento possam ter voz ativa na definição de seu futuro."

(Com agências internacionais