Título: Demanda interna atinge maior nível após a crise
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 01/04/2010, Brasil, p. A3

O nível de demanda interna atingiu neste mês o patamar mais alto desde agosto de 2008, mostrando a recuperação da economia, de acordo com a pesquisa sobre a confiança da indústria divulgada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) . O indicador mostra que 28,6% dos empresários ouvidos no levantamento consideram a demanda forte, o maior percentual registrado desde setembro de 2008. Naquela época, no entanto, uma grande parcela dos entrevistados considerava o nível fraco (11,6%), percentual que é de apenas 4,3% neste mês.

"A avaliação da demanda externa se descolou muito da interna", explica Aloísio Campelo, coordenador do núcleo de pesquisas e análises econômicas da FGV. Em relação ao mercado externo, apenas 4,8% dos empresários consideram a demanda forte e 16,6%, fraca. Esse é um dos itens que compõem o indicador que mensura o grau de satisfação com a situação atual dos negócios, que, após seis meses, voltou a superar o indicador de expectativas. "Não dá para dizer se é bom ou ruim. É uma mudança de quadro natural do ciclo econômico", diz Campelo.

Após a décima-quarta alta consecutiva, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) atingiu em março o segundo maior nível da série histórica, iniciada em abril de 1995, atrás apenas de novembro de 2007. De acordo com a pesquisa, 45,1% dos empresários consideram que a produção prevista para março, abril e maio será maior do que nos três meses anteriores e 7,9% avaliam que será menor. Já para o emprego, 30,6% esperam ampliação do quadro de pessoal e 5,4%, queda.

O nível de estoques atual, na avaliação de Campelo, não é motivo de preocupação. Para 4,7% dos empresários entrevistados, o patamar é insuficiente e, para 5,3%, excessivo. "Não há descompasso. É um quadro virtuoso. As condições estão criadas para um ciclo de crescimento de três a cinco anos, mantidos os fundamentos econômicos", analisa o coordenador da FGV, considerando todos os indicadores do levantamento.

Embora admita que não há como mensurar o nível de utilização da capacidade instalada que começa a pressionar os preços, Campelo considera que os 84,3% de uso registrados em março, o maior percentual desde outubro de 2008, "devem ser monitorados de perto", porque "é um patamar que indica baixo nível de ociosidade". Considerando apenas as empresas voltadas para a exportação, o nível de utilização foi de 80,5%, enquanto naquelas que direcionam mais a produção para o mercado doméstico, o índice atingiu 84,8%.

Na análise por setor, as indústrias de bens de consumo duráveis atingiram o maior uso (90,9%) neste mês, influenciadas provavelmente pelo fim da redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos e móveis. A confiança dos empresários do segmento, aliás, caiu 4,4% entre fevereiro e março, ante um crescimento de 0,6% do índice geral.

"Essa pequena queda se deve à expectativa do que vai acontecer com o fim do benefício fiscal, mas o impacto deve ser moderado", prevê Campelo, destacando que o efeito será atenuado pelo crescimento da massa salarial, a geração de empregos e a redução da inadimplência. A pesquisa da FGV foi feita com 1.165 empresas, que representam vendas de R$ 589,3 bilhões, entre os dias 3 e 26 de março.