Título: Uruguai pode adotar sistema brasileiro de TV digital, diz Mujica
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2010, Brasil, p. A2

de Brasília

O Uruguai está disposto arever a opção pelo sistema europeu de TV digital e analisar a mudançapara o sistema adotado no Brasil, baseado na tecnologia japonesa,informou ao Valor o presidente do país, José Mujica, poucoantes de encontrar-se, ontem à noite, com o presidente Luiz Inácio Lulada Silva. Mujica, que veio com uma comitiva de três ministros e umaagenda de assunto econômicos e comerciais, elegeu um tema político comoprioridade na conversa com Lula: "Às vezes nem os brasileiros se dãoconta que têm o dever político de encabeçar a representação política daAmérica do Sul." Mujicainformou que pretende impulsionar o plano de interligação do territóriouruguaio por serviço de banda larga de internet, usando a rede de cabosópticos que já atende a mais da metade da população do país, e que hápossibilidade de associação com empresas brasileiras nesse projeto.Está fora de questão, porém, a privatização dos serviços, hojemonopólio da estatal Antel, que o presidenteuruguaio já declarou ter intenção de manter. "Temos uma empresa detelecomunicação muito forte, para a dimensão do Uruguai que é estatal,e temos interesse de defendê-la", diz. Mujicapretende enviar ao Congresso um projeto de Lei de Telecomunicações ondeseria incluída a eventual mudança do sistema de TV digital e alteraçõesem decreto editado pelo governo anterior, que abriria a prestação deserviços de dados e voz pela internet. O presidente uruguaio nãodetalhou as mudanças que planeja, mas deixou clara a intenção de migrarpara o sistema de TV Digital "japonês, um pouco abrasileirado". Emfevereiro, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, visitou Mujica emMontevidéu e defendeu as vantagens do sistema adotado no Brasil, quetem código aberto e permite adaptações e uso sem pagamento deroyalties, ao contrário dos concorrentes europeu e americano. "Optamospela norma europeia, agora estamos averiguando", comentou Mujica. "Emgeral, como política nacional procuramos ser fiéis à palavra quecomprometemos, mas isso significa também compromissos pelas outraspartes", argumenta. Ele diz que foram frustrados os planos da UniãoEuropeia de disseminar o padrão europeu pela América Latina, onde alémdo Brasil, Peru, Chile, Venezuela e Argentina já adotaram o padrãojaponês adaptado. "Num piscar de olhos, a América Latinamajoritariamente se inclinou pela norma japonesa um poucoabrasileirada, há realidade de mercado", nota o presidente."Dificilmente a Europa iria estabelecer uma batalha pelo mercadouruguaio que é muito pequeno." Uruguaie Brasil confirmaram o interesse em investimentos conjuntos parainterconexão elétrica e ferroviária, duas prioridades de Mujica, quediscutiu com os brasileiros a saída de um impasse, envolvendo ocomércio de carne de frango entre os dois países. Os uruguaios,alegando incidência da doença de Newcastle, impedem a entrada da carnefresca de frango brasileira em seu mercado, o que levou os brasileirosa criar barreiras também a vendas uruguaias de carne, leite e animaisvivos. "Reconhecemosque o Brasil, com seu prestígio de grande exportador, precisa nocomércio internacional dizer que seus vizinhos não o discriminam porquestões sanitárias", comentou Mujica. "E nós temos de cuidar de nossospequenos produtores, por sensibilidade social. Temos de encontrar umponto de equilíbrio aí." Ex-guerrilheirotupamaro, Mujica adotou em sua passagem pelo Brasil o tom moderado comque vem marcando sua presidência. Defendeu "paciência e firmeza" nasnegociações com a Argentina para pôr fim ao bloqueio de pontes nafronteira - mantido pelos argentinos em protesto pela instalação defábricas de celulose em território uruguaio. E, ao eleger o Brasil comolíder nas iniciativas do continente, como a Unasul, defendeu aconciliação entre os governantes de tendências políticas divergentes naregião. "Não podemos deixar de lado nem (o presidente da Venezuela,Hugo) Chávez, nem (o do Chile, Sebástian) Piñera, nem (o da Colômbia,Álvaro) Uribe, são todos da família", disse. "