Título: Aécio deixa para Anastasia anúncio de reajuste
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 01/04/2010, Política, p. A8

Ao renunciar para disputar as eleições deste ano, o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB) deixou para o sucessor, Antonio Augusto Junho Anastasia, empossado ontem, um combustível para a campanha à reeleição: o novo governador irá sancionar seis projetos de lei aprovados em tempo recorde na Assembleia Legislativa estabelecendo um aumento linear de 10% para 121 carreiras do Poder Executivo. É o primeiro e único aumento linear para os servidores desde o começo da gestão de Aécio, em 2003.

Anastasia também irá sancionar aumentos para os funcionários do Legislativo, a criação de 403 cargos no Ministério Público, um aumento diferenciado, de 15%, para os policiais, a incorporação do cargo de delegado da Polícia Civil no rol das carreiras jurídicas do Estado, e o aumento escalonado de R$ 8 mil para R$ 12 mil no vencimento mínimo da Defensoria Pública até 2012. Segundo o próprio governo estadual, a estimativa de impacto nas finanças públicas para este ano é de R$ 1,1 bilhão, ou cerca de 4% da arrecadação tributária anual.

O aumento distende o clima de tensão que começava a se formar entre o governo estadual e os servidores. O salário do funcionalismo em Minas está abaixo da média nacional para diversas categorias. Mesmo com o reajuste, o piso de remuneração para o magistério está em R$ 935, abaixo do padrão nacional.

Em uma cerimônia tumultuada por uma forte chuva, Aécio discursou na sacada do Palácio da Liberdade, abraçado à filha, Gabriela. Havia poucas presenças de fora de Minas Gerais na despedida do governador que tentou concorrer à presidência da República pelo partido, desafiando o governador paulista José Serra.

Apenas o presidente nacional do PP, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ), que é primo de Aécio, ficou até o final. O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE) o encontrou antes, no Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governo, para uma visita de cortesia. O evento contou com antigas celebridades do esporte, como o ex-jogador de futebol Zico, ou da música, como o cantor Raimundo Fagner, ou das novelas de TV, como a atriz Cristiane Torloni.

"Não governei contra ninguém. Acredito que devemos construir um cenário mais generoso para a política, superar a lógica da disputa pela disputa", disse Aécio, retomando a estratégia de apresentar-se como uma superação do antagonismo entre o PT e o PSDB, que usou na derrotada tentativa de conquistar a candidatura presidencial do partido. Ao sair, Aécio mais uma vez sinalizou, como fez diversas vezes nos últimos meses, que não aceitará ser vice em uma chapa encabeçada por Serra. "Minas é minha escolha e minha esperança", afirmou, indicando que disputará o Senado.

Anastasia assume o governo mineiro com índices entre 22% e 24% nas pesquisas de intenção de voto, conforme a lista de candidatos apresentada. O novo governador manteve toda a equipe escolhida por Aécio, a quem chamou ontem de "grande líder", "gigante", "arguto", "probo", "ousado" e "amigo". Deve escolher um novo secretário de Cultura na próxima semana, já que o atual, Paulo Brant, irá assumir a presidência da Cenibra, fabricante de celulose. Deverá dar um tom social à campanha, a julgar pelo coordenador de programa de governo escolhido: o sociólogo Claudio Beato, um especialista em segurança pública.

Aécio deve viajar ao exterior nos próximos dias, embora tenha garantido presença no ato de lançamento da candidatura de Serra, no dia 10. Ele promete "submergir" nas próximas semanas.