Título: Consórcio da Bertin cota preços com fornecedores
Autor: Basile , Juliano
Fonte: Valor Econômico, 16/04/2010, Brasil, p. A25

Alguns dos principais fornecedores de turbinas para usinas hidrelétricas que estão na disputa para levar os contratos de Belo Monte receberam ontem do consórcio liderado pela Bertin , que tem CSN como autoprodutor, pedido de cotação de preços para poderem ir ao leilão previsto para ocorrer na terça-feira. Os chineses da Dongfang, que são fornecedores de Jirau, preparam uma proposta para entregar ao consórcio na segunda-feira, segundo informou o representante da empresa no país, Osny Silveira. Também a empresa argentina Impsa, que tem associação com o grupo chinês Harbin está no páreo.

Já os fornecedores que estão em consórcio liderado pela Alstom não tinham recebido nenhum pedido até ontem à noite, segundo informações de executivos de empresas que fazem parte do grupo. Os fornecedores de equipamentos estavam até então somente com ofertas firmes feitas à Andrade Gutierrez, Vale, Votorantim e Neoenergia, desde que Camargo Corrêa e Odebrecht desistiram da disputa, e viviam grande fase de expectativa em relação ao novo consórcio.

Mesmo em meio às indefinições que rondam o leilão da usina de Belo Monte, os fornecedores travam uma disputa cada vez mais acirrada para fechar contrato com os empreendedores.

Com a sinalização do BNDES de que os equipamentos terão que ter pelo menos 60% de fabricação local, os grupos já se mostram dispostos a investir em fábricas no Brasil. É o caso dos coreanos da Hyosung, que produzem transformadores e subestações blindadas. O diretor-geral da empresa no Brasil, Hy Tong, diz que pode antecipar a decisão de abrir uma fábrica no país se ganhar o contrato de fornecimento para Belo Monte. O plano prevê até US$ 100 milhões em uma unidade industrial a ser instalada ou São Paulo ou em Minas Gerais. "Mas estamos apenas estudando ainda esse investimento", disse Tong. "De qualquer forma, temos interesse em ter uma fábrica no país, que serviria de base de exportação para os Estados Unidos, onde temos 28% de mercado."

Os principais concorrentes da Hyosung são a Siemens, a ABB, a Toshiba e a Areva, que hoje pertence à Alstom. Mas os coreanos por enquanto estão na mesma situação dos europeus, e não receberam nenhum pedido de cotação de preços de seus produtos. Os coreanos estão portanto apenas com propostas firmes feitas para o consórcio da Andrade Gutierrez.

A argentina Impsa também está se preparando para produzir no Brasil os equipamentos para Belo Monte, com forte apoio do governo federal. Isso porque até então apenas os europeus, unidos em consórcio, têm fábricas no país. A associação da Impsa feita com a Harbin prevê que cerca de 60% dos equipamentos seja feito no país e que os 40% restantes sejam fornecidos pelos chineses. Mas esse tipo de estratégia também pode ser usado pelo consórcio da Alstom, que também têm fábricas na China.

Os fornecedores chineses de turbinas estão com preços bastante agressivos, cerca de 30% menores do que os fornecedores que têm fábricas no Brasil. A Alstom já viu seus preços baixarem consideravelmente em função dessa competição com os chineses e também pelas condições dadas até agora para o leilão.

O BNDES, entretanto, deve dar um incentivo reduzindo pela metade o custo dos juros no financiamento dos equipamentos. Assim os investidores podem fazer novas contas para tentar melhorar as condições do projeto. Até o dia do leilão, ainda haverá muita negociação e expectativa se a usina de fato será licitada no dia 20 de abril, em função da guerra de liminares travada na Justiça federal.