Título: Cenário é favorável ao Brasil, mas ritmo do PIB ainda preocupa
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2010, Brasil, p. A4

Chico Santos e Rafael Rosas, do Rio

O otimismo quanto àpermanência de ventos favoráveis sobre a economia brasileira neste anoeleitoral e nos próximos dominou a mesa de debates do seminário"Cenários da Economia Brasileira e Mundial em 2010", organizado pelaFundação Getulio Vargas (FGV) com o apoio da Federação das Indústriasdo Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e do Valor. Alexandre Schwartsman, economista-chefe do banco Santander,vê um "o cenário muito favorável", mas alerta para o risco de o paísseguir crescendo a taxas muito altas (7% ao ano nos últimos trimestresde 2009) para sua capacidade de suprir a demanda sem desequilíbrioinflacionário. Para ele, "o mais razoável é na casa de 4,5%". "Aideia é tentar moderar o crescimento da demanda para colocá-la em linhacom alguma coisa que seja sustentável ao longo de muito tempo, e nãomuito forte ao longo de pouco tempo", ponderou Schwartsman. Aosjornalistas, disse que, alinhado com a mesma preocupação, o BancoCentral (BC) deverá elevar a taxa de juros básica (Selic) em pelo menos0,5 ponto percentual em abril, podendo a Selic chegar ao final desteano em 11,75% (está hoje em 8,75%). Apesarda preocupação com o ritmo do crescimento, o economista do Santanderdisse que os indicadores de aumento do uso da capacidade instalada daindústria têm sido acompanhados pela elevação dos investimentos. ParaSchwartsman, a economia não está tão sobreaquecida quanto esteve em2008, mas a folga acumulada com a crise de 2009 "já acabou ou acaba aolongo de 2010". Eledisse ainda que a recuperação econômica da América Latina está levandoa que os produtos manufaturados voltem a liderar o crescimento dasexportações brasileiras. Schwartsman destacou que a América Latinarepresenta só 20% das vendas do Brasil, mas responde por 40% dasexportações de manufaturas. Oeconomista Marcelo Neri, especialista em políticas sociais da FGV, apósmostrar dados apontando uma redução do percentual de pobres no Brasilde 34,96% em 1992 para 16,02% em 2008, com aceleração maior a partir de2003, disse que do ponto de vista dos indicadores de pobreza a criseterminou há muito tempo, tanto que quando são computados os dados dos12 meses terminados em fevereiro deste ano os indicadores já sãofavoráveis . "Os resultados continuarão a ser colhidos nos próximoscinco anos", afirmou Neri. Eledestacou o crescimento da chamada "nova classe média" - a "classe C" -e disse que a redução da pobreza deu-se não apenas por conta dosprogramas sociais, como o Bolsa Família, e dos benefíciosprevidenciários, mas, principalmente, pelo aumento da renda dotrabalho. "A redução (da desigualdade) foi dois terços pelo trabalho eum terço pela Previdência e o Bolsa Família", afirmou. Oeconomista Flavio Castelo Branco, diretor da Unidade de PolíticaEconômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), apresentou umcenário mais cauteloso, apesar de reconhecer avanços. Após alertar paraos desequilíbrios estruturais ainda não atacados por estarem"congelados pelo crescimento econômico", Castelo Branco disse que épreciso elevar a taxa de poupança doméstica para dar sustentação aoaumento da taxa de investimentos. "Não sei se para 25% ou 22%. Mas nãopode ficar nos atuais 18% (do PIB)", disse. Ressalvasà parte, nem o processo de sucessão presidencial deste ano assusta osparticipantes do seminário. O diretor de Política Monetária do BC, AldoLuiz Mendes, disse que "quem define o câmbio é o mercado" e que ele nãovê "nenhuma alteração que possa vir da questão política". Mendesprocurou demonstrar na sua palestra que hoje a taxa de câmbio presentedo Brasil não é afetada pelos fluxos diários de moeda estrangeira(dólares americanos), mas pela percepção de risco global e pelaexpectativa de fluxo futuro. O cientista político Amaury de Souza, sócio-diretor da empresa Techne Informática,disse que espera "programas muito similares" na área econômica e que"ninguém vai ser muito ousado". Em tom de brincadeira, o moderador doevento, economista Carlos Langoni (FGV), disse que a certeza de que osprincipais alicerces da política econômica não serão alterados em casode vitória da ministra Dilma Rousseff é tamanha que este ano quem teriaque apresentar uma Carta aos Brasileiros seria o PSDB, do candidatoJosé Serra. Carta aosBrasileiros foi um compromisso com a política macroeconômica do governoanterior divulgado pelo PT durante a campanha de 2002 para acalmar omercado que temia a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva.