Título: Tesouro americano planeja vender participação no Citi
Autor: Moore, Michael J.; Christie, Rebecca
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2010, Finanças, p. C4

de Nova York e de Washington

O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos pretende vender a participação de 27% do governo no Citigroup Inc. neste ano, transação que poderia trazer o maior lucro até agora dentro do programa governamental de resgate bancário. As 7,7 bilhões de ações ordinárias que o Tesouro possui na instituição nova-iorquina serão vendidas ao longo de 2010, seguindo um "plano escrito de negociação predeterminado", segundo informou o Tesouro em comunicado divulgado ontem. A participação do Tesouro - maior do que a de qualquer outro acionista - tinha valor de mercado de US$ 33,2 bilhões, levando em conta os preços do fechamento de sexta-feira, o que significa lucro não-realizado de US$ 8,2 bilhões. A venda completaria o retorno às mãos do governo dos US$ 45 bilhões cedidos ao Citigroup por meio do programa governamental de recuperação de ativos problemáticos (Tarp, na sigla em inglês). Também aproximaria o Tesouro da meta do presidente dos EUA, Barack Obama, de recuperar "cada centavo" do dinheiro dos contribuintes distribuído pelo fundo de resgate dos bancos. O Citigroup recebeu as injeções de capital no fim de 2008, quando a perda de confiança no banco quase desencadeou uma onda de saques. No acumulado do ano, as ações do Citi acumulam valorização superior a 25%. O Citigroup e o setor bancário serão beneficiados se "puderem mostrar que os investimentos do governo por meio do Tarp, de fato, geraram lucros para o contribuinte", afirmou o analista Richard Staite, da Atlantic Equities LLP. O Tesouro não divulgou projeções de lucro com a venda, que será uma "oferta a preços de mercado", segundo afirmou Meg Reilly, porta-voz do Tesouro, em e-mail. O Morgan Stanley assessorará o Tesouro na venda e o contrato com os termos do acordo será divulgado dentro de 48 horas, segundo Reilly. O governo poderia valer-se de um plano de negociação predeterminado, com um cronograma público de venda das ações, segundo fontes a par da situação afirmaram na semana passada. O programa seria similar ao usado por executivos que querem se proteger de acusações de negociação com informações privilegiadas e, então, dizem aos investidores antecipadamente quais são seus planos de venda. O Tesouro deverá vender ações em determinado dia equivalentes a 5% a 10% do volume diário típico, o que o mercado provavelmente está "preparado para absorver", afirmou o analista Paul Miller, da FBR Capital Markets. Uma venda gradual provavelmente será melhor para os atuais acionistas do que uma grande oferta, afirmou Anton Schutz, que administra US$ 225 milhões em ações do setor financeiro na Mendon Capital Advisors, incluindo ações do Citigroup. Os maiores investidores estão com investimentos relativamente baixos no banco, o que poderia sustentar a demanda, disse. "Muitas instituições estão de lado, aguardando pela grande venda do governo para que possam comprar com desconto." Em setembro, o Tesouro havia convertido US$ 25 bilhões dos investimentos no Citi em ações ordinárias, a US$ 3,25 por unidade. Em dezembro, o Citigroup devolveu os US$ 20 bilhões restantes que havia recebido do governo. O Tesouro concordou em esperar 90 dias antes de vender as ações ordinária, prazo encerrado em 16 de março. O possível lucro com as venda das ações do Citigroup iria eclipsar os ganhos com o leilão de garantias do Tarp relacionadas ao resgate do Bank of America , que gerou US$ 1,57 bilhão no início do mês. Uma venda similar de garantias do J.P. Morgan Chase rendeu US$ 950 milhões. O Tesouro recebeu US$ 13,7 bilhões em pagamentos de dividendos e juros referentes a seus programas de resgate, segundo informe do Tesouro divulgado neste mês. O valor inclui, pelo menos, US$ 2,8 bilhões relativos ao Citigroup. Até agora, os oito maiores bancos dos EUA, por ativos, já devolveram pelo menos uma parte dos fundos recebidos pelo Tarp.