Título: É preciso boa vontade para resolver a questão nuclear com o Irã, diz Amorim
Autor: Rosas , Rafael
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2010, Brasil, p. A3
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, acredita que há espaço para solucionar a crise envolvendo o temor de diversos países de que o Irã esteja desenvolvendo um programa de fabricação de armas nucleares. Segundo o chanceler brasileiro, a principal diferença entre as recomendações, feitas em outubro, da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) e a intenção iraniana está na troca de urânio por elementos combustíveis necessários para fabricação de energia ou uso na medicina.
O Brasil sugeriu a adoção de um sistema de troca com um país de confiança tanto do Irã como da comunidade internacional, que poderia atuar como fiel depositário do urânio iraniano até que os produtores dos combustíveis nucleares pudessem entregar as encomendas ao Oriente Médio.
Amorim reuniu-se ontem com o diretor da Aiea, o japonês Yukya Amano, que chegou ao Brasil no domingo para visitar algumas instalações nacionais. Em entrevista após o encontro, o chanceler foi firme ao enfatizar a possibilidade de entendimento entre a comunidade internacional e o Irã e lembrou que a intolerância de ambas as partes levou a "resultados desastrosos" no Iraque, onde ocorreram 200 mil mortes antes de ficar comprovado que o país não tinha armas de destruição em massa.
"Não cabe ao Brasil fazer propostas. Estamos indicando caminhos e as declarações públicas me fazem perceber que o hiato não é tão grande quanto muitas vezes se diz que é, entre a proposta original e o que o Irã se dispõe a fazer", frisou Amorim. "Não é uma coisa impossível, se houver boa vontade. Mas se não houver vontade política, se as pessoas preferirem agir como agiram no passado, com resultados desastrosos, como foi o caso do Iraque, aí pode levar a isso", acrescentou, lembrando que há países próximos ao Irã que poderiam atuar como fiel depositário do urânio caso a sugestão brasileira seja aceita.
Amano se mostrou favorável a conhecer a realidade do programa nuclear iraniano. Ele confirmou ter um convite para visitar o país, mas ainda não decidiu quando irá. O japonês também rebateu as afirmações de que o primeiro relatório apresentado por ele, em fevereiro, como diretor da Aiea endureceu a posição contra o Irã. "Meu relatório apresentado aos Estados-membros é para entender melhor a situação", disse. "Não quero ir a Teerã apenas para dizer oi."
Ele foi taxativo ao afirmar que o documento não explicita a existência de um programa de desenvolvimento de armas nucleares por parte do governo iraniano. "Todos os detalhes estão no relatório. Mas eu não digo no relatório se o Irã tem ou não um programa de armas nucleares, isso eu não digo. O que digo é que estamos preocupados e queremos conversar para esclarecer a questão", ponderou.
Perguntado sobre a aproximação entre Brasil e Irã, Amano foi taxativo: "Não é meu trabalho prover observações sobre as relações diplomáticas entre países."