Título: Sindicatos planejam ato conjunto contra Serra
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2010, Especiall, p. A14

Os principais sindicatos de São Paulo nas áreas de Educação, Saúde e Segurança intensificarão protestos e greves até a desincompatibilização do governador do Estado, José Serra (PSDB), prevista para o dia 02 de abril. Juntos, os servidores das três áreas representam cerca 66% do total de funcionários na ativa do governo do Estado.

Os manifestantes pressionam por aumento salarial, reajuste do vale-alimentação e alteração no plano de carreira. A maioria dessas entidades é vinculada a Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT, e a partidos radicais de esquerda, como P-SOL e PSTU.

Dirigentes sindicais afirmam que o diálogo com a administração estadual melhorou na gestão Serra, mas reclamam que o governo pouco cedeu às reivindicações classistas. A avaliação, em geral, é que o governo tem-se mostrado mais disposto a receber as entidades, com reuniões mais frequentes. Ao mesmo tempo, não permite avanços na recomposição salarial.

Em greve há três semanas, professores planejam um protesto na sexta-feira em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo. A principal entidade articuladora da greve é a Apeoesp, vinculada à CUT, cuja presidente, Maria Izabel Azevedo Noronha, é filiada ao PT. Ontem, professores protestaram em frente à Secretaria Estadual da Educação e na Assembleia Legislativa, em audiência pública organizada pelo deputado Roberto Felício (PT).

A categoria pede um reajuste salarial de 34%, rejeitado pela secretaria. O sindicato dos professores quer, ainda, o fim do Programa de Valorização pelo Mérito, que concede aumento de 25% para um quinto do magistério a cada ano, mediante a realização de uma prova. Para a Apeoesp, o ideal seriam programas de formação continuada durante a jornada do professor.

A Secretaria de Educação condena o movimento que, em sua avaliação, tem caráter político. Por conta disso, instituiu o corte do ponto dos grevistas, com desconto salarial relativo às faltas. Em nota, o governo diz que "deve ser a primeira vez na história do movimento sindical" que uma entidade fica contra um plano de carreira que permite aumento salarial de 25% anual". "Política é a posição deles (governo estadual), de não nos receber. Meu sindicato é dirigido por várias configurações partidárias", diz a presidente da Apeoesp.

Na área da Saúde, o principal sindicato, SindSaúde, planeja fazer um protesto bem-humorado no centro de São Paulo no dia 31, às vésperas de Serra deixar o cargo. A entidade deve contratar um chefe de cozinha para mostrar o que é possível comer com os R$ 4 do "vale-coxinha", como o vale-refeição é apelidado pelos servidores.

O sindicato, também vinculado à CUT, organizou uma paralisação de 48 horas, na segunda-feira e na terça-feira, para pressionar o governo por um aumento salarial de 40% e pelo reajuste do vale-alimentação para R$ 14. Entre as reivindicações estão a jornada de trabalho de 30 horas, a reformulação do bônus e o fim das Organizações Sociais. O sindicato diz ter 26 mil filiados, de um total de 110 mil servidores, e ameaça intensificar a greve a partir do dia 31. A Secretaria de Saúde minimizou o protesto e informou que não houve paralisação do atendimento em unidades de saúde, só piquetes.

O secretário-geral do SindSaúde entidade, Helcio Marcelino, diz que a relação com o governo estadual melhorou e disse ter construído em conjunto um projeto de lei com as reivindicações. "Mas o texto não foi encaminhado à Assembleia Legislativa", reclama. Segundo o secretário de Gestão Pública, Sidney Beraldo, o governo decidiu reter o projeto por conta de restrições orçamentárias (veja reportagem nesta página).

A área de Segurança, que protagonizou a pior greve enfrentada por Serra, em 2008, também organiza sua greve às vésperas da desincompatibilização do governador. Ontem, a Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Adpesp) decidiu iniciar uma "operação padrão" para mostrar a "estrutura defasada da instituição" . A categoria pressiona pela aprovação de um projeto de reestruturação da carreira. A princípio, não haverá greve, segundo a presidente da associação, Marilda Pansonato Pinheiro. A dirigente, no entanto, prevê a paralisação total se o governo estadual não se mostrar disposto a negociar.