Título: Juros para empresas começam a subir
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2010, Finanças, p. C3

Os juros para as empresas começaram a subir em março, já em resposta à expectativa de elevação da taxa Selic e, também, para enfrentar o aumento do custo de captação dos bancos privados, em consequência da recomposição dos empréstimos compulsórios. Os bancos públicos ainda não identificaram elevação do custo de captação.

Dados preliminares do BC apontam que as taxas para as empresas, que haviam recuado 0,6 ponto em fevereiro, tiveram alta de 0,2 ponto nos dez primeiros dias de março. Ao mesmo tempo, os spreads (diferença entre o quanto o banco paga pelos recursos e a taxa final para os clientes) se mantiveram estáveis. "Estamos observando um movimento de elevação do custo de captação", disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes.

O preço subiu, mas o acesso aos recursos para as companhias apresentou forte expansão no mês, revertendo a queda de janeiro. A média diária de concessão avançou 13,3% no mês e 8,8% em relação ao volume de fevereiro do ano passado. O saldo com recursos livres atingiu R$ 485,7 bilhões, alta de 0,8%. Em março, também pelos dados preliminares do BC, o estoque se mantém em expansão, ao ritmo de 0,6%.

O Banco Santander destacou a aceleração das linhas para empresas em seu relatório. "Vemos os dados como positivos, especialmente a aceleração das linhas com recursos livres liderada pelos empréstimos para empresas", diz texto da equipe de análise da instituição.

O quadro no crédito ao consumo é mais positivo. As taxas de juros continuam recuando e atingiram o menor patamar da série histórica, iniciada em julho de 1994. O juro médio para o consumidor foi para 41,9% ao ano, em fevereiro. Nos primeiros dias de março, baixaram para 41,6% ao ano. Segundo Lopes, nesse nicho, a queda dos spreads está compensando o aumento no custo de captação.

De maneira geral, o mês de fevereiro foi muito bom para o crédito. O volume total atingiu R$ 1,435 bilhão, com expansão de 0,8% no mês e de 16,8% no ano, atingindo o equivalente a 44,9% do PIB. Esse desempenho, segundo o BC, já reflete o maior equilíbrio nas concessões dos empréstimos. Ao contrário da crise, quando as linhas para o consumo subiram mais do que para empresas, agora os empréstimos para pessoas físicas apresentam um ritmo de crescimento de 20% (contra 30% em 2008), enquanto o nicho corporativo voltou a acelerar.

"As taxas (de crescimento) são bastante razoáveis e dão dinâmica também razoável à atividade econômica. Não são nem tão fortes a ponto de preocupar, nem tão fracas que não sustentem a economia", analisou Lopes. Além disso, a oferta de crédito, na margem, já mostra uma certa igualdade entre os recursos livres e direcionados, o que também é positivo, segundo a autoridade monetária.

Ele destacou, ainda, a tendência de queda da inadimplência entre as pessoas jurídicas. Os atrasos acima de 90 dias recuaram de 3,8%, em janeiro, para 3,7%. "A taxa de inadimplência das empresas é baixa, mas tiveram impacto maior durante a crise. Nesse segmento se espera uma redução maior nos próximos meses", diz.

Com a expansão do crédito nos dois primeiros meses do ano, o Banco Central revisou suas projeções para o crescimento das carteiras nesse ano. Os bancos públicos devem ter uma expansão de 23%, mesmo percentual dos privados nacionais. Já os bancos estrangeiros devem crescer 8%.

Em dezembro, o BC acredita que as instituições privadas voltariam a superar os bancos públicos, mas os dados do bimestre mostram outra tendência. No mês, os estatais registraram expansão de 0,9%, contra 1% dos privados nacionais e retração de 0,2% dos estrangeiros.

Boa parte da expansão dos bancos públicos veio da Caixa Econômica Federal, que cresceu 4,3% sua carteira em fevereiro, puxada pelo crédito imobiliário (4,4%) e para as pessoas jurídicas (5,9%). "Vamos crescer mais de 30% neste ano. Nosso objetivo é expandir o crédito, bancarizar e ganhar mercado, sem aumentar as taxas de juros", disse Márcio Percival, vice-presidente da Caixa. Em março, a demanda por empréstimos na Caixa se manteve forte especialmente nas linhas de pessoas físicas e habitação, contou Percival.

A expectativa do Banco Central é de um crescimento de 18% dos crédito com recursos livres, sendo 21% para a pessoa física e 14% para as empresas.

Os empréstimos com recursos direcionados devem avançar 26% no ano. Com isso, o crédito total deve atingir o patamar recorde de 49% do PIB em dezembro. O BC mudou o cálculo da relação crédito/PIB, passando a considerar o PIB medido a valores correntes, ao invés do PIB valorizado pelo IGP-DI, utilizado até então.