Título: PT e PMDB juntos, mas sem paixão
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 28/06/2010, Cidades, p. 22

O candidato do PT ao governo do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, oficializou ontem o casamento ¿ há muito antecipado e anunciado ¿ entre petistas e peemdebistas na chapa que disputará este ano o comando do Palácio Buriti. Na convenção regional do PT, realizada ontem no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, o vice de Agnelo, Tadeu Filippelli (PMDB), foi apresentado à militância petista, que o recebeu sem hostilidade mas também sem entusiasmo.

Depois de anos em lados opostos durante a campanha eleitoral, a militância dos dois partidos optou por aceitar em silêncio a aliança dos antigos adversários, com a convicção de que a união sem amor das duas siglas é a única saída para abater Joaquim Roriz (PSC), político que também formalizou ontem sua candidatura ao GDF.

No front petista, aliados de Agnelo revelam que muitos partidários ainda não engoliram a coligação com o PMDB e que o argumento utilizado para acalmar os ânimos dos insatisfeitos é que ¿ depois da recepção de Filippelli ontem na convenção ¿ no decorrer da campanha, o vice terá ¿tamanho de vice¿ nos palanques, sem nunca protagonizar o evento.

O candidato ao governo não nega as divergências internas, mas afirma que as arestas serão aparadas durante a campanha.

¿Isso (as diferenças entre PT e PMDB) vai ser superado no curso da batalha. Quando se tem objetivo, meta, todos se unem em torno disso e permitem que qualquer divergência do passado seja superada¿. Filippelli, por sua vez, afirma que política é feita de circunstâncias. ¿Acredito que, na política, tudo é feito pelo momento e que todos os partidos que vinham na disputa devem se unir para um novo caminho¿, defende.A presidenciável do PT, Dilma Rousseff, era esperada na convenção, mas não apareceu. Sua participação se limitou a fotos em banners e a uma mensagem lida por emissário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ¿Vamos somar forças para convocar a sociedade e virar a página do passado, retornando à condição republicana no Distrito Federal¿, escreveu a candidata. Lula também mandou mensagem para Agnelo, afirmando que ¿Brasília tem pressa¿ e que a aliança PT/PMDB é um ¿momento histórico¿ para a capital do país. Mas foi o recado dado pelo emissário de Lula que soou melhor para o candidato ao governo. O presidente mandou dizer que nunca defendeu a existência de dois palanques no Distrito Federal para Dilma, em resposta às tentativas de negociação do senador Gim Argello (PTB) para lançar uma chapa alternativa, que teria o governador Rogério Rosso na liderança. ¿Essa é a mensagem, era preciso deixar isso claro¿, festejou Agnelo.

¿Estranheza¿ Os candidatos ao Senado pela chapa, o senador Cristovam Buarque (PDT) e o deputado Rodrigo Rollemberg (PSB), vestiram vermelho para homenagear o PT.

Cristovam admitiu que causa ¿estranheza¿ uma mesa composta por ele, Filippelli e petistas, mas argumentou que o objetivo maior é derrotar Roriz. ¿As eleições são dois lados, Roriz e o resto. Filippelli veio para o lado de cá e fez o favor de tirar o Roriz do PMDB. Essa estranheza pode até existir, tem lógica¿. O senador até arriscou um palpite favorável à situação do candidato do PSC diante da Lei da Ficha Limpa: ¿Se a Ficha Limpa for por causa da renúncia, acho que ele pode ser salvo. Quando renunciou não era crime¿.

A candidatura de Rollemberg ao Senado é comemorada por petistas.

Nos bastidores, o argumento é que o parlamentar do PSB pode ¿puxar¿ votos para a coligação.

Mas alguns militantes ligados ao deputado Geraldo Magela (Ppreterido para disputar o Senado, manifestaram certa hostilidade a Rollemberg que comparou a aliança dos antigos adversários às costuras feitas por Lula na Presidência.

¿O presidente Lula conseguiu trazer todas as mudanças para o Brasil porque soube fazer alianças¿.

A aliança multipartidária coloriu a convenção. Aproximadamente 4 mil petistas e mil peemedebistas agitaram bandeiras e sopraram vuvuzelas, saudando a chapa que reúne sete partidos, até agora. A coligação ainda conversa com o PTB. O PPS do Distrito Federal estaria impedido de entrar formalmente na aliança por determinação da executiva nacional da sigla, até agora. O presidente nacional do partido, Roberto Freire, chegou até a cogitar uma intervenção na cúpula local. Apesar da ameaça, o deputado federal Augusto Carvalho (PPS) afirmou estar muito próximo de fechar a coligação com os petistas. A convenção regional da sigla está marcada para hoje à noite.

Pelo menos nove ônibus levaram os militantes até o Parque da Cidade. Claque contratada pelo candidato a deputado federal João Maria (PT) formou uma longa fila para ganhar o cachorro-quente prometido pelos responsáveis pelo transporte dos trabalhadores.

Apesar da preocupação da Polícia Militar, que mobilizou cerca de 30 homens para a segurança do evento, não houve tumulto. A autônoma Neuza Farias, 51 anos, moradora do Novo Gama, afirma que a militância já está pacificada e que as brigas ficaram no passado. Ela já foi filiada ao PT e, ontem, foi representar o PMDB. ¿Um era a paixão e o outro, a consciência. Agora, eu vou carregar as duas bandeiras¿.

Além dos cargos majoritários, o presidente regional do PT, Roberto Policarpo, espera que a coligação emplaque a maioria na bancada do DF na Câmara dos Deputados e na Câmara Legislativa.

¿Nossa missão é eleger cinco deputados federais nesta eleição e fazer uma bancada distrital que possa nos orgulhar.¿