Título: Em meio ao lobby do rei da Suécia, franceses baixam preço de caça
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 25/03/2010, Brasil, p. A4

A Dassault,fabricante do Rafale francês, reduziu em mais 11% a 12% o preço doavião com que concorre na seleção para fornecimento de caças à ForçaAérea Brasileira, informou ontem o ministro da Defesa, Nelson Jobim. "O(presidente da França, Nicolas) Sarkozy cumpriu a promessa feita anós", comentou Jobim, em tom de aprovação. Apesar de mais essaindicação de interesse pelos caças franceses, Jobim e o presidente LuizInácio Lula da Silva afirmaram ontem não haver decisão, ainda, sobrequem será o fornecedor da FAB.

Estudofeito pela Aeronáutica apontou os caças Rafale, da Dassault, como osmais caros e de operação mais custosa para a FAB. Na semana passada,porém, o governo conseguiu que a FAB refizesse seu relatório,amenizando preferências e situando as três propostas em um mesmo nívelde avaliação. O primeiro relatório da FAB, obtido por publicaçõesespecializadas, enfatizava que o preço para venda dos aviões estaria emUS$ 8,2 bilhões, bem acima dos concorrentes Boeing (US$ 5,7 bilhões) e Saab (US$4,7 bilhões). No começo do ano, o ministério deixou vazar informaçõesde que o valor dos caças franceses havia caído para US$ 6,2 bilhões,ainda considerado alto.

"Nãoé uma coisa que vai ser paga no meu governo, vai ser paga para frente",argumentou Lula, ontem, para justificar a falta de urgência. "Tenho deter mais cuidado e mais responsabilidade." O presidente fez questão delembrar que o governo quer fazer da compra uma oportunidade para criarcapacidade de produção e venda de aviões militares. "Queremos fabricaro avião no Brasil e queremos que o Brasil seja, inclusive, num futurobem próximo, exportador desses aviões", comentou.

Jobiminformou que só depois da Semana Santa deverá concluir seu parecer, combase nas análises das secretarias que encarregou de estudar a avaliaçãofeita pela FAB a respeito dos concorrentes, o sueco Gripen, o francêsRafale e o americano F-18 Super Hornet. Lula convocará, então, oConselho de Defesa para a decisão final.

Lulafalou sobre a concorrência da FAB pouco depois de receber o rei daSuécia, Carl XVI Gustaf, que não vacilou em abordar o assunto noencontro entre os dois. O rei comentou com Lula, em conversa reservada,que gostaria de tratar com ele do tema dos caças, "uma via de mãodupla", que criaria uma ligação entre as indústrias aeronáuticas dosdois países, segundo argumentou. O ministro de Defesa sueco, StenTolgfors, disse que a associação entre os dois países seria benéficapor ligar uma indústria aeronáutica forte em encomendas civis, como abrasileira, a outra mais forte no terreno militar, como a sueca.

Aodiscursar durante assinatura de atos, no Palácio do Itamaraty, o rei,embora não tenha citado os caças, propôs "aprofundar a cooperação e ointercâmbio dos dois países em diversos setores, como defesa eindústria aeronáutica". Depois do encontro, o presidente comentou semconstrangimento o lobby feito pelo rei sueco.

"Orei da Suécia faz o que fazem todas as pessoas que eu encontro", disseLula, ao lembrar que, em breve, terá encontros com o presidente daRússia, Dimitri Medvedev, o presidente dos Estados Unidos, BarackObama, e o da França, Nicolas Sarkozy, e que espera ouvir de todos adefesa de aviões dos respectivos países, ainda que os encontros sejammotivados por outros temas. "Cada um vai falando, a gente vaiaprendendo e quem sabe o preço vai caindo", brincou. O rei viaja no fimde semana à Amazônia, com Jobim, a quem espera convencer das vantagensda propostas sueca, que garante permitir total transferênciatecnológica.

Todasas indicações do governo são em direção ao contrato com os franceses,único, segundo argumenta Jobim, a não fazer reservas em relação atransferência de tecnologia e futura venda a terceiros países. Emboraos concorrentes americanos e suecos garantam oferecer transferência detecnologia, Jobim manifesta desconfiança, lembrando casos passados emque, por razões geopolíticas, o governo americano bloqueou negócios deempresas brasileiras com material militar com tecnologia sensívelfornecida pelos EUA. (Colaborou Cláudia Safatle, de Brasília)