Título: Ciro se diz mais preparado que Dilma e coloca candidatura nas mãos do PSB
Autor: Romero , Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 25/03/2010, Política, p. A6

Odeputado Ciro Gomes, candidato do PSB à Presidência da Republica, disseontem que está mais preparado para enfrentar o debate eleitoral do quea ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, candidata do PT. Ciro afirmouque falta a Dilma um projeto para o país. Ele criticou também a aliançado presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e da candidatura Dilma, com oPMDB e declarou que, por causa dessa aliança, o segundo mandato dopresidente foi, do ponto de vista ético, pior que o primeiro.

Asdeclarações foram feitas durante o programa 3 a 1, transmitido ontem,às 23h, pela TV Brasil, da Empresa Brasileira de Comunicação. Naentrevista, Ciro criticou as alianças do PSDB, a política econômica, oBanco Central e a atuação política do ex-ministro José Dirceu. Disse,ainda, que só desistirá da candidatura presidencial se seu partidoassim o decidir.

"Dilmatem um grande histórico, mas pode cometer um erro no processopolítico-eleitoral porque nunca foi candidata a nada. Sou, por estrada,mais preparado para o debate", opinou o ex-ministro para, em seguida,elogiar a ministra. "Isso não diminui a Dilma, que é uma pessoaextraordinária e de muito valor. É uma grande administradora, gosta doBrasil, é decente. Se o país escolhê-la, pode saber que estará com umagrande presidente. Não tenha dúvida disso. Mas eu tenho maisexperiência do que ela."

Cirocontou que o ex-ministro José Dirceu, de quem se disse "amigo", visitoudois governadores nordestinos - seu irmão Cid Gomes, do Ceará, eEduardo Campos, de Pernambuco, ambos do PSB - para fazer carga contrasua candidatura à presidência. Segundo o deputado, Dirceu teriaameaçado os dois, dizendo que, se eles não apoiassem Dilma, não teriamo apoio do PT na disputa pela reeleição nos respectivos Estados.

"Nãoé assim que se trata um amigo, parceiro ou companheiro", queixou-seCiro. "Sou um aliado do PT. Agora, sou um aliado que exige respeito. OPT está acostumado a tratar seus aliados como se fossem seus empregadose a destratá-los, como faz com o PCdoB."

ParaCiro, ao insistirem para que ele desista da candidatura, Lula e o PTnão estariam confiando nas possibilidades de Dilma. "Tento dizer aoscompanheiros do PT que, se o Lula, com a força legítima e apopularidade extraordinária e merecida que tem, não tiver segurança deque a Dilma ganha as eleições de mim, que estou trabalhando com asunhas, é porque ela vai perder para o [José] Serra [governador de SãoPaulo]. E, aí, será uma tragédia", declarou o deputado, que foiministro da Integração Nacional no primeiro mandato de Lula.

"Soucandidato a presidente, não a vice", garantiu ele num outro momento daentrevista. Ciro disse que é o único candidato "limpo" ao se referir àsalianças do PT e do PSDB. Ele atacou a polarização das eleições entreos dois partidos. "Quem manda não é o presidente. É o CongressoNacional. Por isso, pretendo dizer em minha campanha ao cidadão: "sevocê quer votar em mim, então me dê deputados e senadores". É assim quefunciona. E só eu posso dizer isso porque o Serra está com uma banda depodridão e a Dilma está com a outra", acusou.

Nacúpula do governo, as declarações foram encaradas como o desabafo dequem "cometeu erros estratégicos e, agora, está isolado". Ciro, naavaliação de um auxiliar do presidente Lula, apostou erradamente quandoacreditou que Dilma não subiria nas pesquisas e que, por causa disso, asua candidatura ganharia importância e forçaria a realização de umsegundo turno com José Serra. O problema é que Dilma subiu e Serra,embora ainda esteja na liderança das pesquisas, perdeu pontos. Como nãoavançou, a candidatura Ciro perdeu importância, inclusive, para seuscorreligionários do PSB.

Navisão do Palácio do Planalto, se tivesse seguido a sugestão dopresidente Lula, Ciro seria candidato ao governo paulista, com o apoiodo PT. Não ganharia a disputa, mas ajudaria a tirar votos de Serra emseu principal reduto eleitoral. Dessa forma, estaria no projeto depoder da ministra Dilma, o que, agora, já não é mais tão certo.Ministros e assessores próximos do presidente reclamam do tom usado porCiro nas críticas ao PT, atribuindo também a isso o isolamento doex-ministro. Recentemente, foi Dilma quem se queixou. "Não entendoessas críticas do Ciro a mim", disse a ministra, segundo relato de umcolega.

Para o PSB, acandidatura Ciro era importante enquanto ele tinha chances de crescere, no limite, ir para o segundo turno. Agora, enfraquecida e diante docrescimento de Dilma, que já tem quase 1/3 das intenções de votos, acandidatura não teria mais peso para ajudar os candidatos do partidonas eleições estaduais.

Lulaainda quer que Ciro desista do pleito, mas não deseja ficar com aincumbência de lhe pedir isso. O presidente do PSB, Eduardo Campos, porsua vez, prefere que Lula fale com o deputado. Lula e Campos tratarãodo assunto em encontro na terça-feira, em Salgueiro, no sertãopernambucano, durante visita às obras de construção de um trecho daferrovia Transnordestina.