Título: Fundo da Petrobras não avança
Autor: Mandl , Carolina
Fonte: Valor Econômico, 25/03/2010, Finanças, p. C1

Iniciado em meados do ano passado e anunciado publicamente pela Petrobrasem janeiro deste ano, o programa de financiamento a fornecedores daestatal está patinando. O projeto previa levantar com investidores atéR$ 4 bilhões por meio de fundos de investimento em direitos creditórios(FIDCs), que usariam o dinheiro para adiantar recursos aos fornecedoresde produtos e serviços da Petrobras por meio da compra dos contratosfechados com a estatal.

Primeiro fundo a começar a operar, o BR2, gerido pela pequena BI Invest,não conseguiu ainda comprar os recebíveis, apesar de já ter concluído acaptação de recursos dos investidores em dezembro. Dos R$ 100 milhõesque possui para aplicar em direitos creditórios, o BR2 só investiu R$ 8milhões, sendo que já deveria ter pelo menos R$ 50 milhões emrecebíveis segundo as regras do mercado.

Por causa desse desenquadramento, o HSBC,que administra o fundo, já convocou duas assembleias de cotistas. Naprimeira, feita em fevereiro, os investidores deram um prazo de um mêspara que o fundo se adequasse a sua proposta de investir em direitoscreditórios. Na segunda, marcada para 6 de abril, os investidores vãodecidir se dão mais um tempo para os gestores ou se liquidam o fundo.

"Écomplicado um fundo mal começar a operar e os cotistas já seremchamados para duas assembleias. Já demos uma chance a eles, agora temosdúvidas se vão conseguir cumprir as novas promessas", diz um investidordo BR2 que preferiu não ser identificado.

Procurada pelo Valor,a Petrobras informou que não comentaria a questão por não ser a gestorados fundos. O programa é patrocinado pela empresa, que fomenta acriação dos fundos por meio da compra de parte das cotas. Ou seja, aestatal entra como investidora desses fundos. O interesse da Petrobrasneste projeto é ampliar o volume de recursos disponíveis para seusfornecedores, que hoje dependem basicamente das linhas de capital degiro dos bancos.

SegundoReinaldo Zakalski, sócio da BI Invest e gestor do BR2, odesenquadramento do fundo deve-se à dificuldade na aquisição dosrecebíveis. "Imaginávamos que o processo levaria 20 dias, mas estáchegando ao dobro disso", diz. Entre os obstáculos, Zakalski cita afalta de familiaridade dos fornecedores com o FIDC. De acordo com ele,mesmo depois de entender como o fundo funciona, os fornecedores nãoestão conseguindo preparar a documentação no tempo previstoinicialmente para se credenciar a descontar seus recebíveis.

Porse tratar de uma operação nova, Henrique Ferreira, diretor da HSBCGlobal Asset Management, afirma que o gestor, apesar de ter uma listade recebíveis elegíveis ao fundo, tem encontrado obstáculo na hora denegociar a cessão com os fornecedores e, em alguns casos, na própriaPetrobras. "Faz parte do aprendizado de todas as empresas nãofinanceiras envolvidas no processo, dos fornecedores às regionais daPetrobras", diz.

Diantedos problemas, agora os gestores vão propor aos cotistas do BR2 maisuma prorrogação no prazo para que o fundo invista nos direitoscreditórios. Além disso, vão sugerir uma flexibilização nas regras dofundo. Hoje, o máximo que ele pode comprar de recebíveis de um únicofornecedor equivale a 2,5% do patrimônio do fundo, o que corresponde aR$ 2,5 milhões. A ideia é aumentar esse limite para 10%. Com isso, ogestor do fundo teria de recorrer a um número menor de fornecedorespara conseguir aplicar o patrimônio do fundo. Segundo o Valorapurou, um dos entraves do BR2 tem sido conseguir alcançar os pequenose médios fornecedores detentores desses contratos menores.

Ferreiraressalta que os investidores da cota sênior do FIDC não estão tendoprejuízo com a operação. A aplicação está sendo corrigida em linha coma rentabilidade alvo, de 120% do CDI, apesar de a carteira ser formadamajoritariamente por títulos públicos. A Petrobras, na condição decotista júnior, é quem está arcando com esse retorno.

Asdificuldades que a BI Invest está enfrentando para aplicar os R$ 100milhões do BR2 em recebíveis, porém, não está inibindo o lançamento denovos fundos nos mesmos moldes. Pelos menos outros R$ 500 milhões emfundos estão sendo estruturados. É importante ressaltar, porém, quenenhum deles ainda chegou ao estágio de comprar direitos creditórioscomo o BR2.

A Oliveira Trusttem três fundos de fornecedores da Petrobras no forno. O primeiro, deR$ 80 milhões, deve sair em abril. Os outros dois, de R$ 100 milhões eR$ 200 milhões, têm lançamento previsto para o primeiro e segundosemestres, respectivamente. José Alexandre Freitas, diretor da OliveiraTrust, está confiante que há espaço para as demais carteiras. "Comotudo o que é novo, há um processo árduo de aprendizagem", afirma.