Título: Reduto tucano tem 10 filiados do PT que não se encontram há um ano
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2010, Política, p. A10

Arroio do Padre

Principal reduto tucano na eleição presidencial de 2006 no Rio Grande do Sul, Arroio do Padre, no sul do Estado, liquidou com os ânimos da escassa militância local do PT. Constituída em 2001, a comissão provisória do partido na cidade de 3 mil habitantes, a maior parte de ascendência alemã e dedicada ao plantio de fumo, tem apenas dez filiados que não se reúnem formalmente há um ano e nem têm data definida para o próximo encontro. " O partido desanimou " , reconhece o presidente da comissão, o pernambucano Manoel Juventino das Chagas, que vive em Arroio do Padre desde 2000. Em 2006, o então candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, obteve 85,1% dos votos da cidade no segundo turno, contra apenas 14,9% do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. " As pessoas são taxativas aqui: não gostam do PT " , explica o militante. Chagas atribui o fraco desempenho do partido no município a uma boa dose de " conservadorismo " e também de " preconceito " contra o presidente da República. Para o petista, a população local sequer reconhece as " melhorias " da agricultura familiar sob o governo Lula porque ele é " nordestino e de família pobre " . Pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, que reúne cerca de 1,2 mil fiéis da cidade, Fabrício Weiss identifica um forte " sentimento antiPT " entre os moradores locais por razões que vão desde o " medo do comunismo e de perder as terras " até a percepção de que o presidente Lula " ajuda mais o Nordeste do que o Sul do país " . Para ele, a pré-candidata do partido à Presidência, Dilma Rousseff, ainda pode enfrentar problemas extras porque a comunidade é muito " machista " . Conforme o prefeito Jaime Starke (PP), mais de 70% dos 835 produtores cadastrados no escritório local da Emater-RS acessam o Pronaf, o programa de crédito com juros subsidiados para a agricultura familiar. Mesmo assim, muita gente reclama das restrições para utilizar a linha no financiamento das lavouras de fumo e diz que o governo " ajuda mais as grandes empresas do que os pequenos agricultores " , explica Weiss. O programa Bolsa Família, puxador de votos em outras regiões do país, não faz grande diferença em Arroio do Padre devido à renda proporcionada pela agricultura familiar para a população, explica o presidente da Câmara de Vereadores, Ruinei Lerm, do PDT, partido aliado do PT na eleição presidencial deste ano. Segundo a prefeitura, apenas 101 famílias recebem o benefício. O ambiente na cidade é tão antipetista que o próprio pastor luterano decidiu mudar de lado. Ele votou em Lula em 2006, mas neste ano não pretende votar na pré-candidata do PT " por antipatia a ela " e porque tem ouvido muitas " queixas " da população sobre a falta de apoio do governo à produção agrícola local, especialmente em períodos de quebra de safra. " Hoje eu votaria no José Serra (pré-candidato do PSDB) " , afirma. Ainda mais convicto, o produtor aposentado Albino Krug afirma que escolheu Alckmin em 2006 e votará no candidato do PSDB neste ano. Ele diz que acompanha " pelo jornal " o governo Lula e faz críticas ao presidente pelo escândalo do " mensalão " e pelas " promessas não cumpridas " para a agricultura familiar. " E o Serra é uma pessoa honesta; nunca ouvi falarem mal dele " , completa. O presidente da Câmara de Vereadores lembra que os eleitores locais também torceram o nariz quando o governo federal ratificou a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2005, apesar das promessas de estímulo oficial à diversificação de culturas nas pequenas propriedades. " Pelo menos 85% da população daqui tem relação com a cultura do fumo " , diz Lerm, ele próprio um produtor de tabaco. Em compensação, o vereador entende que Serra também pode ser prejudicado na cidade porque é reconhecido como inimigo do cigarro, abrindo brechas para algum crescimento de Dilma em comparação com o desempenho de Lula em 2006. " O PSDB vai ganhar em 2010, mas não por uma diferença tão grande " , acredita Lerm. " O PT deve crescer um pouco, mas o Serra ainda fará uns 75% dos votos " , ressalva o vereador Leonir Baschi, do DEM. O prefeito da cidade é outro que não acredita em " extremos " como os de 2002 e 2006 na votação para presidente neste ano na cidade. Um dos motivos, segundo Starke, é que o município, que teve receita de R$ 7,6 milhões em 2009, " nunca recebeu tantos aportes como no segundo mandato do presidente Lula " . Só em 2008 e 2009 foram R$ 2,7 milhões em transferências voluntárias para obras públicas, incluindo um projeto para ampliar o abastecimento de água tratada, hoje restrita a 12% da população. " Mas o presidente terá que identificar mais a ex-ministra Dilma com ele " , acredita o prefeito, que ainda não sabe se vai apoiar a petista ou Serra na próxima eleição. Isso vai depender da decisão do comando nacional do partido. Em 2006, quando era vice-prefeito, ele permaneceu neutro entre Lula e Alckmin, mas o então prefeito, Gilnei Fischer, do PFL (hoje DEM), apoiou o tucano em função da coligação do partido com o PSDB. (SB)