Título: Partidos mobilizam grotões gaúchos
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2010, Política, p. A10

de Porto Alegre

Com colégios eleitorais praticamente do mesmo tamanho, economias baseadas na produção de tabaco e populações de ascendência alemã, os municípios gaúchos de Arroio do Padre e Herveiras simbolizam o peso das estruturas partidárias locais no voto dos pequenos municípios do Rio Grande do Sul. Semelhantes em quase tudo, exceto pelos comportamentos eleitorais, as duas localidades transformaram-se em trincheiras, dentro do Rio Grande do Sul, na disputa nacional entre PT e PSDB. Em 2006, depois das vitórias no Estado sobre os adversários do PSDB desde 1994, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) perdeu para o tucano Geraldo Alckmin em 366 dos 496 municípios gaúchos no segundo turno. Em Arroio do Padre, com 2,1 mil eleitores à época, Alckmin alcançou o pico de 85,1% dos votos válidos. Já em Herveiras, então com 2,2 mil eleitores, o petista chegou ao seu melhor desempenho no Rio Grande do Sul: 69,8%. Petistas e tucanos estão fora das prefeituras de Herveiras e Arroio do Padre, mas a aliança que comanda os municípios e tem a hegemonia na Câmara dos Vereadores é francamente favorável, respectivamente, ao PT e ao PSDB. Emancipado em 1996, Herveiras registra uma história favorável ao PT. Lá, Lula obteve 43,5% dos votos válidos no primeiro turno de 1998 e 77,8% no segundo turno de 2002. Na disputa para o governo do Estado, a votação local do PT começou em 24,6% (1998), cresceu para 60% (2002) e chegou a 65,8% (2006). Nas disputas municipais, o prefeito Paulo Grassel (PMDB) e seu primo e vice Cláudio Grassel (PSB) foram eleitos em 2004 e reeleitos em 2008. O PT conseguiu a primeira vaga na Câmara de Vereadores de Herveiras em 2004 e a manteve na eleição seguinte. No mesmo período, o PSB passou de um para dois vereadores, o PP de três para quatro, o PMDB de dois para um e o PTB, de zero para um. Arroio do Padre, ao contrário, é território tucano desde a primeira eleição para presidente da República no município, em 2002, quando José Serra (PSDB) obteve 83,4% dos votos válidos no segundo turno. Naquele ano o ex-governador Germano Rigotto (PMDB) ganhou 88,3% dos votos locais, também no segundo turno, e em 2006 a atual governadora, Yeda Crusius (PSDB), alcançou 85,6%, praticamente o mesmo índice do então candidato a presidente pelo partido, Geraldo Alckmin. Já o PT nem sequer conseguiu emplacar um representante na Câmara local. Em 2004, foram eleitos três vereadores do PP, três do DEM e três do PDT, enquanto o petista com melhor desempenho obteve apenas 43 votos e ficou em 23º lugar entre 36 candidatos de todos os partidos. Na prefeitura, o PFL (hoje DEM) venceu em 2004 com o PP de vice, mas em 2008 o então vice-prefeito Jaime Starke levou o comando do Executivo local numa chapa com o PDT. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Rio Grande do Sul tem hoje 8 milhões de eleitores, o equivalente a 6% do total do país. Praticamente 1,4 milhão deles estão nos 362 municípios com colégio eleitoral de até 10 mil pessoas e representam pouco mais de duas vezes a vantagem obtida por Alckmin sobre Lula no Estado em 2006. No total, a diferença pró-Alckmin no Estado no segundo turno da última eleição presidencial foi de 674,3 mil votos dentro de um colégio eleitoral de 7,7 milhões de pessoas naquele ano. Na disputa anterior o petista havia superado José Serra por 754,3 mil votos no primeiro turno e por 689,3 mil no segundo. Alckmin também venceu em nove das 12 cidades gaúchas com mais de 100 mil eleitores. Ele levou a melhor em Porto Alegre, com 55,8% dos votos válidos no segundo turno, além de Pelotas, Caxias do Sul, Santa Maria, Novo Hamburgo, Gravataí, Viamão, Alvorada e Passo Fundo. Lula saiu vitorioso apenas em Canoas, São Leopoldo e Rio Grande. Até agora a pré-candidata do PT à sucessão de Lula, Dilma Rousseff, está atrás do governador de São Paulo e pré-candidato tucano à Presidência, José Serra, nas pesquisas de intenção de voto no Estado, mas ela conta com o desempenho da economia e a aliança nacional com o PMDB para tentar restabelecer a hegemonia petista. Nas eleições municipais de 2008 o PT também ampliou o número de prefeituras no Rio Grande do Sul de 43 para 61, enquanto o PSDB passou de 17 para 19. O PP avançou de 134 para 147 prefeituras e apesar de fazer parte da base de apoio do governo Lula é cobiçado por Serra para compor a chapa na eleição deste ano. O PMDB ficou em segundo, com 143 municípios (ante 137 em 2004), incluindo a reeleição do prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, hoje pré-candidato ao governo estadual. Embora a cúpula nacional do partido esteja com Dilma, os pemedebistas gaúchos ainda resistem em apoiar a petista.