Título: Fechamento do espaço aéreo pode atrapalhar recuperação europeia
Autor: Michaels, Daniel; McGrath, Steve
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2010, Internacional, p. A11

O prolongado fechamento do espaço aéreo europeu por causa de uma nuvem de cinzas vulcânicas ameaça descarrilar a frágil recuperação econômica da região e levou as companhias aéreas locais a adotar medidas inusitadas, numa tentativa de recuperar algum controle sobre a situação. Enquanto as autoridades de aviação prolongavam para hoje a proibição de voos, elevando o número de cancelamentos para mais de 63.000, as companhias aéreas europeias, fortemente prejudicadas pelo problema, realizaram testes no fim de semana para determinar a segurança de operar na cinza e poeira expelidas por um vulcão islandês desde quarta-feira. Muitas autoridades especializadas em aviação dizem que a reação de fechar vastos segmentos do espaço aéreo sem uma análise detalhada das condições atmosféricas e dos perigos foi exagerada. Enquanto isso, as companhias aéreas improvisaram soluções, quando possível, para movimentar os passageiros. A companhia indiana Jet Airways, que voa entre a América do Norte e a Índia usando o Aeroporto de Bruxelas como " hub " , começou a usar o de Atenas para abastecer os aviões. A taiwanesa China Airlines movimentou os passageiros ilhados com ônibus e navios, mas não conseguiu tirá-los da Europa. Economistas dizem que se o bloqueio do espaço aéreo terminar nos próximos dias, seu impacto financeiro ficará limitado a setores como aviação, turismo e indústrias que dependem de entregas rápidas em via aérea. Se o bloqueio do espaço aéreo continuar, os prejuízos serão mais profundos, preveem analistas. " A Europa é a maior exportadora do mundo e a segunda maior importadora. É a maior cliente da China " , disse Eric Chaney, economista-chefe do Grupo AXA. " O comércio exterior tem sido o maior fator da recuperação mundial e [uma paralisação demorada] terá um impacto significativo no comércio mundial e na recuperação, que ainda está frágil. " As companhias aéreas mais prejudicadas aumentaram os esforços para mostrar às autoridades de regulamentação que é seguro voar. As divisões francesa e alemã da Air France-KLM SA informaram que vários jatos que testaram a 41.000 pés (12,5 quilômetros) de altitude não apresentaram danos causados pela poeira abrasiva. A British Airways PLC informou que também planejava conduzir um voo de teste. As companhias encaminharam suas análises dos voos para as autoridades internacionais de aviação, responsáveis por determinar o fechamento do espaço aéreo. " Pedimos às autoridades que voem e realizem testes de verdade " , disse um porta-voz da alemã Deutsche Lufthansa AG, que reposicionou dez aviões de dois corredores na Alemanha no sábado, voando-os abaixo do limite restrito de altitude do espaço aéreo, mas não coletou dados atmosféricos. Associações empresariais que representam aeroportos e companhias aéreas europeias pediram ontem num comunicado conjunto que fosse feita " uma reavaliação imediata das restrições de voo " , afirmando que pelo menos 7 milhões de pessoas foram afetadas. " A erupção do vulcão islandês não é um acontecimento sem precedentes, e os procedimentos aplicados em outras partes do mundo para lidar com erupções vulcânicas aparentemente não exigiram o tipo de restrições que vêm sendo impostas atualmente na Europa " , informou o comunicado da Associação de Companhias Aéreas da Europa e o Conselho Internacional de Aeroportos da Europa. Autoridades de aviação e especialistas em segurança já disseram que estão seguindo recomendações da ONU e de experiências com outros incidentes. Axel Raab, porta-voz da agência nacional de segurança aérea da Alemanha, a DFS, defendeu a resposta das autoridades à nuvem de cinzas, e disse que não existem balões na Europa com capacidade para medir a densidade ou a concentração de cinzas no ar. Ele disse também que os aparelhos das estações climáticas estão sendo atualizados. Um avião também está sendo equipado com aparelhos para medir o verdadeiro nível da fuligem no ar, disse ele. A reação crescente surgiu no momento em que o impacto da nuvem de cinzas se espalhou além das indústrias de turismo e aviação para o resto da economia. Quanto mais tempo demorar a interrupção, maiores as chances de que vai estrangular a frágil expansão econômica em curso na Europa. Numa previsão divulgada na sexta-feira, a empresa de contabilidade Ernst & Young previu uma recuperação " débil " para os 16 países da zona do euro, com crescimento de apenas 1% este ano, após declínio de 4% em 2009. A nuvem de cinzas proveniente de uma erupção na Islândia, que está causando a paralisação dos voos, continuou se movimentando ontem à medida que os ventos a empurravam do vulcão ativo na Islândia para a Europa.