Título: Projetos de expansão permanecem nas gavetas
Autor: Fontes, Stella
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2010, Empresas, p. B7

de São Paulo

Enquanto os planos de expansão podem ser acelerados no segmento de celulose, diante da forte retomada das vendas mundiais, a produção brasileira de papel deve crescer em ritmo lento nos próximos anos, influenciada negativamente pelo excesso de oferta no mercado internacional, baixo consumo relativo no país e pressão do câmbio sobre a competitividade do produto nacional. Na avaliação dos fabricantes de papel que atuam no Brasil, um ou outro segmento, como o de embalagens e " tissue " (papéis absorventes), tornaram-se mais atrativos com a melhora da renda do brasileiro e podem receber novos investimentos. Contudo, em linhas gerais, as empresas não têm no radar planos de aporte significativos no curto e médio prazos. Globalmente, conforme consenso entre empresários e analistas, a produção de papel, que já supera a demanda, deverá ser ainda mais pressionada pela China. Somente em 2010, o país asiático deverá fabricar entre 5 milhões e 6 milhões de toneladas adicionais de diferentes tipos de papel. Bom para os produtores de celulose, que venderão mais matéria-prima para os chineses, porém um risco para as papeleiras mundo afora, uma vez que o volume que não for consumido internamente será exportado. " O mercado não está atrativo para novos investimentos neste momento " , afirma o presidente da Suzano Papel e Celulose, Antonio Maciel Neto. Uma das maiores companhias integradas da América do Sul, a empresa controlada pela família Feffer tem hoje 60% de suas vendas na área de papel e 40%, na de celulose - em 2009, a capacidade de produção era de 1,75 milhão de toneladas da matéria-prima destinada ao mercado e 1,1 milhão de toneladas de papel. Nos próximos anos, porém, haverá inversão desses percentuais, como resultado da inauguração de novas fábricas de celulose, evidenciando a tendência da indústria brasileira no curto prazo. Assim como a concorrente, a Fibria, resultante da fusão de Votorantim Celulose e Papel (VCP) e Aracruz e maior produtora mundial de celulose branqueada de eucalipto, não prevê aportes no segmento de papéis. Mais do que isso, poderá se desfazer da participação no Conpacel, consórcio que reúne os ativos da antiga Ripasa e foi constituído pela VCP em sociedade com a Suzano. De acordo com o presidente do conselho de administração da Fibria, José Luciano Penido, a companhia está " satisfeita " com a operação, mas avaliaria eventuais ofertas recebidas. Entre as multinacionais, o clima também não é de investimentos nesse mercado. A sueco-finlandesa Stora Enso, que produz em uma unidade paranaense cerca de 180 mil toneladas anuais de papel para impressão gráfica (TWC) e importa outras categorias de produto, está trabalhando neste momento em um novo aporte na fabricação local de celulose - ela é sócia da Fibria na Veracel e planeja, com a brasileira, dobrar o tamanho da unidade instalada no sul da Bahia. Para o negócio de papel, entretanto, não há previsão de recursos. " Hoje, só escala justifica novos investimentos e o Brasil não é um mercado tão grande " , diz o vice-presidente da companhia para a América Latina, Otávio Pontes. Atualmente, o consumo per capita de papel no país está em 48 quilos, ante média mundial de 57 quilos. Argumentação semelhante é feita pelo diretor geral da Asia Pulp and Paper (APP) Brasil, Geraldo Ferreira. A APP importa todo o produto que vende localmente e não pretende investir em produção no país. Conforme o executivo, além de câmbio e necessidade de escala, há peculiaridades do mercado brasileiro que inviabilizam aportes dessa natureza, como, por exemplo, o monopólio em determinados segmentos. " O produto importado, no fim das contas, ajuda a promover equilíbrio de preços. De acordo com dados da Bracelpa, entidade que representa a indústria nacional, a participação dos importados é mais relevante nos segmentos de papel imprensa, não revestidos com pastas, couché e LWC. Em todos os casos, com exceção do couché, a capacidade instalada no país é significativamente inferior ao consumo aparente. Ainda assim, uma parcela dos importados tirava o sono dos produtores locais, que conseguiram no fim do ano passado importante vitória junto à Receita Federal. As regras de fiscalização do papel imune, que é isento de impostos para finalidades editoriais e educacionais, foram endurecidas e a expectativa é de que o volume importado mostre alguma redução já neste ano. Nos primeiros meses de 2010, a indústria papeleira conseguiu recuperar uma parte do fôlego perdido durante a crise econômica e vem anunciando reajustes para os diferentes tipos de produtos. Os volumes comercializados no mercado interno subiram 12,7% em fevereiro, na comparação anual, e indicam para retomada das vendas no restante do ano. Mas dificilmente as empresas conseguirão repor as perdas de receitas com exportação, entre 12% e 15%, verificadas em 2009. Nesse cenário, decisões de investimento como a da International Paper (IP) do Brasil, que pode instalar uma segunda linha de papéis de imprimir e escrever em Três Lagoas (MS), foram postergadas. A companhia americana anunciaria no primeiro trimestre se iria ampliar a produção em 200 mil toneladas, porém transferiu para o fim do ano a tomada de decisão, com o objetivo de avaliar o desempenho do mercado até lá. Mesmo com esse pano de fundo, a presidente da Bracelpa, Elizabeth de Carvalhaes, ressalta que o Brasil não tem tendência " exclusiva " à produção de celulose. " Tanto a produção quanto a exportação de papel vão crescer " , avalia. " Vale ressaltar que durante a crise tivemos o início de operação de uma nova máquina " , lembra a executiva, referindo-se à primeira linha da IP em Mato Grosso do Sul. Em 2008, segundo ranking mais recente da RISI, empresa especializada em informações sobre o setor, o país ocupava a 11ª posição entre os maiores produtores mundiais de papel, com 9,4 milhões de toneladas. Os Estados Unidos, cuja liderança vem sendo ameaçada pela China, fabricaram, no mesmo ano, 80 milhões de toneladas. Conforme Elizabeth, a carga fiscal de 17% incidente sobre investimentos no setor e a tributação de quase 30% que é aplicada sobre o papel de imprimir e escrever nacional são inibidores de novos investimentos. Mas a expansão do mercado doméstico, como se nota especialmente no segmento de papéis sanitários e, mais recentemente, no de embalagens, demandará aportes. " É fundamental investir nessas áreas " , ressalta.