Título: Sistema público sem estrutura
Autor: Oliveto, Paloma
Fonte: Correio Braziliense, 05/07/2010, Saúde, p. 17

O Vigitel também avaliou os cuidados das brasileiras na prevenção dos cânceres de mama e de colo de útero. No conjunto da população de mulheres com idade entre 50 e 69 anos, das 27 cidades estudadas, a frequência de realização de mamografia nos últimos dois anos foi de 72,2%. ¿Acompanhando recomendações internacionais, o Ministério da Saúde orienta que todas as mulheres dessa faixa etária se submetam a exames de mamografia pelo menos uma vez a cada dois anos, além de recomendar o exame anual para mulheres acima de 35 anos que pertençam a grupos de alto risco¿, diz o texto do Ministério da Saúde.

Para o oncologista João Nunes, do Centro de Câncer de Brasília, o índice constatado no estudo é satisfatório. ¿O grande problema é o que fazer, caso o resultado do exame indique a necessidade de investigação posterior mais complexa. Não existe uma rede de estrutura adequada para seguir em frente na investigação dos exames que, porventura, se mostrem alterados¿, pondera.

Assim como no uso de protetor contra o câncer de pele, a frequência de mamografia nos últimos dois anos aumenta com a escolaridade, passando de 67,3% na menor faixa para 88,2% na faixa igual ou maior a 12 anos de estudo. Na opinião da massagista Fernanda Justiniano Gomes, 25 anos, as mulheres que dependem exclusivamente do sistema público de saúde têm maior dificuldade para conseguir fazer o exame. ¿Na rede pública, a pessoa tem de marcar com meses de antecedência. Se não tiver condições para fazer em hospitais particulares, acaba desistindo¿, observa.

Prevenção Embora ainda esteja longe da faixa etária que deve fazer o exame, Fernanda pretende se submeter a uma mamografia depois que a filha de 2 anos e 11 meses parar de mamar. ¿É por prevenção mesmo, para me acostumar. A gente é muito acomodado e deixa de correr atrás das coisas importantes.

É melhor prevenir¿, diz.

Desde que engravidou do primeiro filho, aos 15 anos, a massagista faz exames ginecológicos pelo menos uma vez por ano. ¿Nunca deu nada, graças a Deus, mas não deixo de fazer¿, conta.

O exame citológico, popularmente conhecido como papanicolau, detecta doenças como a infecção pelo HPV, vírus que pode desencadear o câncer de colo de útero. ¿Esse câncer é um dos poucos no qual a prevenção é real, ou seja, é possível não ter o câncer fazendo os exames de prevenção de forma satisfatória. Quando detectado precocemente, o índice de cura se aproxima de 100%¿, lembra o oncologista João Nunes.

No total, o Vigitel revelou que 81,2% das brasileiras fizeram o exame preventivo nos últimos três anos. Porém a diferença é grande, dependendo da capital: enquanto, em São Paulo, o índice é de 90,6%, em Maceió fica em 61,1%. (PO)

Não existe uma rede (pública) adequada para seguir em frente na investigação dos exames, caso eles se mostrem alterados¿ João Nunes, oncologista.