Título: Nunca um governo fez tanto por nosso setor", diz fundador da UDR
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Fonte: Valor Econômico, 05/04/2010, Especial, p. A14
O empresário Luiz Guilherme Zancaner, dono do grupo Unialco, com três usinas de álcool e açúcar, apoia o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e tem confiança de que a pré-candidata do PT à Presidência, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, continue com a política favorável à expansão do setor. Fundador da União Democrática Ruralista (UDR), Zancaner é sobrinho do ex-senador da Arena Orlando Zancaner, mas não poupa elogios Lula. A opção, diz o empresário, é pragmática. Zancaner é diretor secretário da Unidade dos Produtores de Bioenergia (Udop), entidade de usineiros da região Oeste de São Paulo, onde está concentrado o rico e produtivo agronegócio da cana no país.
Valor: Qual é a expectativa que o senhor tem com relação à ministra Dilma Rousseff?
Luiz Guilherme Zancaner: Houve uma sinalização muito boa da parte dela, de continuidade. Não se esperava a crise e o governo Lula ajudou. Essa já é a terceira vez que ela vem à feira [referindo-se à Feicana, feira de negócios do setor em Araçatuba]. Também já estive com ela no ministério.
Valor: O senhor a conhece há muito tempo?
Zancaner: Pouco antes de Lula ser eleito, em 2006, antes do segundo turno, estivemos numa reunião fechada em um hotel em São Paulo. Estavam Lula, Dilma, Celso Amorim, o então ministro da Agricultura, Luis Carlos Guedes. Do nosso setor, estavam eu, Rubens Ometto, José Pessoa, Maurílio Biagi, Eduardo Carvalho e Hermelindo Ruet. Naquela reunião, Lula expôs ao setor o que ele fez e o setor reconheceu.
Valor: Foi uma reunião de acordo?
Zancaner: Lula e Dilma mostraram a afinidade com o setor. O governo patina algumas vezes, por causa da burocracia, mas nós patinamos também na questão do cumprimento dos preços. Falta estoque regulador.
Valor: Estoque feito pelo governo?
Zancaner: A falta de estoque regulador de preços é ruim para nós, para o consumidor e para o governador. Se a Petrobras fizesse parte disso, ganharia dinheiro.
Valor: Como o senhor avalia a atuação do governo Lula no setor?
Zancaner: Na crise, o governo fez a parte dele. Deu crédito, apesar de toda a burocracia para liberar. O governo Lula foi excepcional para o nosso negócio, fico até emocionado. O setor fez muito pelo Brasil, mas o governo está fazendo muito pelo setor. Nunca houve antes política tão boa para nós. O presidente Lula não perde nenhuma oportunidade de ser gentil. Outras pessoas não perdem a oportunidade de serem desagradáveis, arrogantes.
Valor: É sobre o pré-candidato do PSDB á Presidência, José Serra, que o senhor está falando? Ele tem sido restritivo à plantação da cana?
Zancaner: Só posso afirmar que o Serra é um excelente administrador, mas considero que o Serra não vê o setor como o Lula vê. O Lula formou uma equipe boa, como o ótimo ministro da Agricultura, o Reinhold Stephanes. Noto que o Lula fez um governo melhor. O Fernando Henrique Cardoso fez as bases, mas Lula e Dilma construíram os canais conosco.
Valor: E o senhor acha que a Dilma vai dar continuidade?
Zancaner: A Dilma foi muito clara quando esteve aqui, em Araçatuba. A linha é de continuar a política de Lula.
Valor: O senhor esteve com ela?
Zancaner: Sim, conversei com ela. Sinto que a maioria do setor, mesmo com os problemas com o MST, tem afinidade com a ministra e um diálogo muito bom. O governador [que deixou o cargo na sexta-feira] Serra é mais fechado, não temos diálogo com ele.
Valor: O senhor tem diferenças ideológicas com o atual governo e com a ministra Dilma?
Zancaner: Fui fundador da UDR de Araçatuba, em 1988. Sou muito amigo do Ronaldo Caiado. Tenho divergências ideológicas tanto com Lula quanto com a ministra. Tenho divergência em relação ao MST, nessa questão dos direitos humanos, do ministro Vannuchi, a quem sou muito crítico. Acho que nessa questão da anistia, o que passou, passou. Mas se quer revisar a anistia, quem sequestrou, assaltou banco, quem matou também tem que ser julgado. Tem que ter equidade.
Valor: Quer dizer que esse apoio ao governo Lula e à Dilma é uma questão pragmática?
Zancaner: É uma questão pragmática, do nosso negócio. O governo, por exemplo, se preocupa com a desnacionalização do setor, o que é importante para nós. Nessa questão é importante ter equilíbrio, é interessante o capital estrangeiro vir porque melhora o preço dos nossos ativos. E nós precisamos desse capital. Mas precisa ter equilíbrio. O custo de capital deles é muito menor por causa dos juros que eles encontram lá fora.
Valor: O governo poderia oferecer juros mais baixos, no patamar do americano?
Zancaner: Poderia ser juro mais barato do BNDES.
Valor: A ministra Dilma defende o fortalecimento dos grupos nacional do setor de etanol. Qual seria a maneira de fazer isso além de aumentar a oferta de financiamento?
Zancaner: Por que a Petrobras não pode participar dos grupos nacionais? O governo deverá fortalecer e tem condição de dar sustentação dos grupos nacionais para dar equilíbrio ao capital nacional. Hoje, o capital estrangeiro já tem 25% de toda a produção de cana do Brasil.
Valor: Como poderia ser essa participação da Petrobras?
Zancaner: A Petrobras tem mais chance de entrar na produção de etanol, na usina. A empresa já faz contratos de exportação com o Japão, já tem estrutura de distribuição.
Valor: O senhor defende que a Petrobras plante cana ou seja proprietária de terras?
Zancaner: Não, seria uma participação só nas usinas.
Valor: Os usineiros sempre foram adversários do PT. O senhor acha que contraria a tendência?
Zancaner: Temos deputados do PSDB, DEM, PP, PPS. Eles têm atividade conosco. Acredito que o Serra vá sinalizar qual é a política para o setor, o que ele quer para o etanol. O Alckmin [ex-governador de São Paulo do PSDB Geraldo Alckmin] dialogava com o setor, fez um rearranjo do ICMS do setor, fez a lei das queimadas, mas o Serra modificou e diminuiu o prazo para reduzir as queimadas.
Valor: O senhor acha o governo Lula bom, para além do seu setor?
Zancaner: Sou um sujeito de direita, sou a favor da livre iniciativa, mas tenho sensibilidade social. O Bolsa Família mudou o Nordeste. Tinha gente sem dinheiro para comer ou para comprar uma pasta de dente. A situação fora de São Paulo, do Sudeste, é muito diferente. O Brasil ainda tem muita miséria.
Valor: E o senhor tem pretensões políticas?
Zancaner: Por enquanto não tenho nenhuma. (APG)