Título: Moeda mais forte traria até prejuízos aos americanos, avalia professor
Autor: Dyer, Geoff
Fonte: Valor Econômico, 22/04/2010, Internacional, p. A11

de São Paulo

Se o governo chinês de fato permitir certa valorização de sua moeda, o yuan, este movimento vai acabar por "desestabilizar o sistema monetário mundial". A avaliação é de Dennis Snower, economista americano por Oxford e Princeton, que considera a valorização do yuan "perigosa" por desestimular os chineses a aplicarem os dólares que entram em seu país nos títulos americanos. Para Snower, que visitou a Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FVG-RJ) na semana passada, os EUA não podem, ainda, dispensar as reservas chinesas. Depois do esforço empreendido pelo governo Obama, ao longo de 2009, para reativar a economia em recessão, é preciso encontrar formas, avalia Snower, para manter os estímulos e os investimentos do governo. "O Estado americano saiu mais fraco da crise. O dólar mais desvalorizado em relação a uma série de moedas demonstra isso. Mas os EUA não podem manter isso por muito tempo, uma hora a moeda precisará se fortalecer", afirma. Do estouro da crise, em setembro de 2008, até o momento, o dólar acumulou forte desvalorização diante moedas de países como Brasil, onde a valorização do real foi superior a 30% no período, mas se manteve fixa em relação ao yuan. A valorização do yuan diminuiria a vantagem cambial das exportações chinesas, diminuindo o ingresso de dólares oriundos das vendas externas e, consequentemente, reduziria as aplicações chinesas nos títulos americanos. Os títulos do governo americano são remunerados pelas taxas de juros básicas determinadas pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que chegaram a valer 5,25% ao ano entre 2004 e 2006. Atualmente, essas taxas variam entre zero e 0,25% ao ano. Questionado pelo Valor se uma elevação de juros, como parte do mercado aposta que o Fed fará até o fim de ano, poderia contrabalançar os efeitos da valorização do yuan, ao tornar os títulos mais atraentes, Snower é enfático: "Muito pelo contrário. O impacto sobre os mercados mundiais será muito mais negativo que positivo". Quando ele se tornou doutor em economia por Princeton (EUA), em 1975, o dólar acabara de entrar no regime de livre flutuação, após o fim do sistema monetário fixo, em que a emissão de dólar era lastreada em reservas de ouro. Os EUA adquiriram, então, o papel de "provedor de crédito global", ao financiar sua expansão econômica com reservas estrangeiras. Após o período de estresse econômico, determinado pela debacle financeira de 2008, a retomada das nações industrializadas, diz Snower, foi formada graças à política de juros baixos do Fed. "A partir de março de 2009, o crescimento, ainda que fraco, verificado, se deu graças ao carry-trade com dólares", diz o economistas, em referência a operação em que investidores se endividam em moedas de juros baixos - como o dólar, atualmente - para aplicarem em moedas de juros mais elevados. "Este movimento pode sofrer um choque caso o Fed se mova muito rapidamente, o que vai desarticular o ainda tímido crescimento econômico global", avalia. Não será uma valorização do yuan que reverterá o crônico problema de déficits duplos americanos - em conta corrente e orçamentário - , diz Snower.